Pesquisadores relembram legado em Rondônia do pesquisador Luiz Hildebrando Pereira da Silva, referência mundial em estudos sobre doenças tropicais

Quando Luiz Hildebrando Pereira se aposentou do Instituto Pasteur, na França, decidiu dar continuidade aos estudos sobre malária em Rondônia.

Texto: Vanessa Moura/ Foto: Marcos Freire
Publicada em 25 de setembro de 2017 às 15:49
Pesquisadores relembram legado em Rondônia do pesquisador Luiz Hildebrando Pereira da Silva, referência mundial em estudos sobre doenças tropicais

Em 2014 o pesquisador recebeu do governador Confúcio Moura reconhecimento pela contribuição ao estado de Rondônia

Ontem (24) completou três anos da morte do pesquisador e médico sanitarista Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Ele deixou seu legado em Rondônia tendo sido fundamental na consolidação de pesquisas e inovações em saúde e ocupado importantes funções no Centro de Pesquisa em Medicina Tropical – (Cepem), Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicas de Rondônia (Ipepatro) e Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Rondônia.

Em 2014, ele foi condecorado com a Ordem do Mérito Marechal Rondon– a maior honraria outorgada pelo governo estadual. Na ocasião o governador Confúcio Moura destacou que a premiação era justa por tudo que o agraciado representou para Rondônia e para o mundo com descobertas científicas valiosas.

O diretor do Cepem, médico e pesquisador Mauro Tada, conviveu por mais de três décadas com o conceituado cientista brasileiro e ressalta as importantes contribuições dele para o estado de Rondônia. ‘‘Eu conheci o professor Hildebrando através dos congressos brasileiros de medicina tropical. Ele vinha de Paris para fazer palestras na área de virologia e vacinas e sempre esteve envolvido em pesquisas na Amazônia e na África’’, conta.

Quando Luiz Hildebrando Pereira se aposentou do Instituto Pasteur, na França, decidiu dar continuidade aos estudos sobre malária em Rondônia.  ‘‘Ele veio junto com a USP e se associou com a gente, assim formou-se um núcleo de pesquisa no Estado e a partir daí nós formamos o Cepem onde o a malária era e ainda é o carro-chefe das pesquisas’’, conta Tada. Ainda nesta época o pesquisador já tinha um reconhecimento internacional importante.

Foram mais de 10 anos se dividindo entre Paris e Rondônia. ‘‘A vinda dele para Rondônia foi algo fantástico para que a gente pudesse se desenvolver e o que nós somos agora devemos muito a ele. Ele trouxe para Rondônia vários cientistas que através de simpósios compartilharam conhecimento para Estado ter um desenvolvimento melhor porque ele sempre quis a formação de uma massa crítica local’’, considera Tada.

Um exemplo desse esforço em formar massa crítica local é a pesquisadora em saúde da Fiocruz e diretora científica do Cepem Najla Benevides Matos. Ela chegou ao Cepem como aluna de iniciação científica no 2º ano de Biologia onde cursava na Universidade Federal de Rondônia (Unir) e teve o privilégio de aprender com o pesquisador. ‘‘Era o ano 2000 quando conheci o professor Hildebrando, esse ícone da pesquisa no mundo, e foi a partir das portas abertas por ele que ingressei na pesquisa’’, conta.

A pesquisadora fez a iniciação científica e mestrado em biologia experimental em Rondônia e fez doutorado no Instituto Paster, fundação francesa na qual Hilebrando trabalhou até se aposentar. ‘‘Essa foi uma a portar aberta por ele para mim e assim ele também fez por outros pesquisadores. A instituição hoje existe por causa da existência e da persistência do professor Hildebrando. Na minha vida abaixo de Deus, eu devo a ele tudo que conquistei até hoje’’, revela Najla.

Najla apesar de ter estudado no exterior, retornou para Rondônia. ‘‘Primeiro por acreditar na história que o professor Hildebrando plantou, sendo um grande mestre e todas as atividades que fazemos aqui é voltada para essa visão que ele tinha de acreditar em Rondônia e acreditar no potencial das pessoas daqui que podem contribuir para o desenvolvimento da nossa região’’, afirma.

Inclusive foi do pesquisador Luiz Hildebrando Pereira a ideia de criar o Polo de referência em Pesquisa, Formação, Desenvolvimento, Inovação e Difusão em Saúde (PID) no estado de Rondônia que funciona desde 2009 e está com estrutura física em construção.  ‘‘Uma ideia inovadora que faz com que equipes de pesquisas se integrem e ele acreditou que nós pudéssemos fazer isso’’, avalia Tada.

Ele ainda elevou o nome do Estado no cenário internacional.  ‘‘Ele permitiu que Rondônia conseguisse expandir e ganhasse visibilidade na mídia internacional. Era o nosso maior divulgador, falava de Rondônia em todas as palestras que ele dava no mundo inteiro’’, afirma. Tada ainda lembra da inquietude do pesquisador em achar respostas através das pesquisas.

‘‘Ele nunca ficava tranquilo até chegar à resposta que ele queria. Dizia que não tinha tempo para pedir desculpas, tinha que ir para frente. Esse é legado que ele nos deixou. Espero que as novas gerações que ele nos ajudou a formar leve essa ideia para frente’’, disse.

O pesquisador de resultados, profissional comprometido com o que fazia, podia ter escolhido qualquer lugar do mundo para desenvolver suas pesquisas, mas a escolha por Rondônia acredita Tada foi devido o povo rondoniense.

‘‘Nós somos diferentes dos outros estados brasileiros porque nós temos aqui uma integração entre etnias importantíssima e não temos xenofobismo que ocorre em outras áreas inclusive da região Norte. E isso é importante para o desenvolvimento por que onde há novas culturas, há novas ideias. Era isso que ele acreditava’’, considera.

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