PGR envia ofício ao presidente do Senado para solicitar manutenção de veto a dispositivos da Lei 13.655/2018

Se aprovada integralmente, norma pode impedir controle sobre agentes públicos e comprometer a lei de improbidade administrativa

MPF
Publicada em 27 de junho de 2018 às 10:33
PGR envia ofício ao presidente do Senado para solicitar manutenção de veto a dispositivos da Lei 13.655/2018

Foto: João Américo/Secom/PGR

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou, na segunda-feira (25), ofício ao presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB/CE), em que pede a manutenção dos vetos a dispositivos da Lei 13.655/2018. De acordo com a PGR, se o texto for aprovado integralmente, a aplicação da lei de improbidade administrativa seria afetada, favorecendo a impunidade de agentes públicos que praticarem irregularidades. A Câmara de Combate à Corrupção (5CCR) também divulgou nota técnica na qual analisa todos os artigos vetados pelo presidente da República, Michel Temer (MDB), e reafirma a necessidade da manutenção dos vetos.

Em ambas as manifestações, o MPF ressalta que a derrubada dos vetos impossibilitaria a prevenção, a repressão e o ressarcimento de danos ao erário. “As disposições constantes da nova legislação tendem a dificultar, ou até mesmo a impedir, que se fiscalize o cumprimento dos princípios constitucionais que regem a administração pública, como a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a legalidade na aplicação do dinheiro público”, destaca Raquel Dodge sobre o normativo que deve ser analisado nesta terça-feira (26) pela Casa Legislativa.

A alteração foi feita na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que orienta a interpretação de normas jurídicas, de direito público ou privado. Para a PGR, a modificação traria “consequências jurídicas imensas, pois ela é uma das principais matrizes do ordenamento jurídico brasileiro”. No documento, a PGR destaca pontos da norma que já haviam sido contestados pelo Ministério Público Federal (MPF). Em abril deste ano, quando o projeto estava em análise na Presidência da República, uma nota técnica elaborada pelas Câmaras de Coordenação e Revisão do órgão alertou que a proposta poderia prejudicar o sistema de controle e pediu o veto integral.

No mesmo mês, em manifestação pública, Raquel Dodge também chamou a atenção para o risco de retrocesso no enfrentamento à corrupção que o PL impunha à legislação brasileira. No entanto, apenas alguns dispositivos foram vetados. Um dos problemas apontados é que a lei, de forma direta e imediata, atinge negativamente a atuação do Poder Judiciário e dos órgãos de controle da administração pública, uma vez que prevê diversas condicionantes às decisões dessas instituições.

Outro aspecto questionado é a ausência de discussão sobre o texto da lei ao longo da tramitação da proposta legislativa. O projeto foi aprovado de forma terminativa no âmbito das comissões das casas legislativas, sem discussão em plenário e sem qualquer oportunidade de participação de associações, representantes de classes, e de órgãos públicos fiscalizadores, como tribunais de contas, o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Impressiona que proposta de tamanha envergadura – cuja vigência redundaria em profunda modificação na atuação dos órgãos de controle – tenha sido aprovada em regime de urgência, sem debate com os setores envolvidos, sem mesmo a imprescindível participação da sociedade civil”, ressalta Raquel Dodge, completando que a postura adotada está na contramão do espaço e da credibilidade que essas entidades de controle conquistaram nos últimos anos, contribuindo para que se tenha um país onde ninguém esteja abaixo ou acima da lei.

No ofício endereçado ao presidente do Senado, a procuradora-geral também frisa que a norma contraria a teoria geral do direito administrativo, especialmente nos capítulos relativos ao ato administrativo e ao controle da administração pública, ofendendo frontalmente a própria Constituição da República.

 

 

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook