Preço do Negacionismo

O preço do negacionismo de Bolsonaro custará caro. O país poderia, assim como os americanos, estar com a economia retomada e muitas vidas salvas

Marcio Coimbra
Publicada em 24 de maio de 2021 às 15:02
Preço do Negacionismo

A pandemia já cobrou um preço muito alto da sociedade brasileira, seja em termos de vidas, mas também diante do desgaste brutal da economia. Os erros do governo foram fundamentais nesta equação, desde a negação do problema, passando pela aposta em tratamentos ineficazes, ausência de testagem em massa, crença na imunidade de rebanho e falta de uma política séria diante da compra de vacinas.

Em breve, o Brasil atingirá o inimaginável número de meio milhão de mortos. Este número não encontra paralelo em nossa história e certamente se tornará uma triste marca com a qual teremos que conviver para sempre. Aquilo que causa maior repulsa é que estamos falando de um número que poderia ter sido evitado, seja por meio da imunização em massa ou mesmo pela realização de modelos de testagem eficazes que evitariam maior disseminação do vírus.

Nosso governo errou em todas as frentes e tornou-se impossível não responsabilizar Bolsonaro pelos equívocos na condução dos instrumentos de combate ao vírus. Negar e minimizar o problema tornou-se uma política que fez com que o número de vítimas escalasse de forma assustadora e desnecessária. Ao incentivar a população a seguir os mesmos dogmas, o governo agiu de forma irresponsável, deixando de defender aqueles que deveria proteger.

A testagem, realizada de forma estratégica, poderia ajudar a evitar a disseminação do vírus e manter a economia aberta, com as devidas cautelas, em determinadas áreas. Diante das dimensões continentais do Brasil, não teríamos outro caminho a seguir. Contudo, a opção foi negar a gravidade do vírus e deixar os testes estocados até que perdessem a sua validade. Uma atitude, no mínimo, irresponsável.

A aposta na cloroquina como tratamento precoce também cobrou seu preço, uma vez que Bolsonaro deixou de apostar na compra de imunizantes e patrocinou, com dinheiro público e uso das forças militares, a produção, distribuição e incentivo do uso de um medicamento que além de possuir efeitos colaterais perigosos, mostrou-se ineficaz para o tratamento da covid-19. O apoio a um tratamento precoce, ineficaz e arriscado, está inclusive sendo alvo de investigação e pode vir a responsabilizar o Planalto.

Como se não fosse o bastante, Bolsonaro deixou de apostar na vacina como saída da crise. Ao contrário de Donald Trump, que também negou a gravidade da pandemia, mas comprou quantidades imensas de doses de imunizantes de todos os laboratórios que desenvolviam vacinas, Bolsonaro se moveu em sentido oposto, refém de uma visão de mundo limitada e arcaica. Ao apostar somente em um laboratório, deixou um país com enorme capacidade de vacinação, sem imunizantes para aplicar em sua população. Sem a aposta do governo de São Paulo, o país estaria completamente à deriva.

O preço do negacionismo de Bolsonaro custará caro. O país poderia, assim como os americanos, estar com a economia retomada e muitas vidas salvas. Refém de suas crenças, Bolsonaro fez o oposto e jogou o país na escuridão. Será preciso um esforço enorme para emergir deste fosso onde nos encontramos. Nosso povo merece mais do que isso.

Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal

Sobre a Faculdade Presbiteriana Mackenzie

A Faculdade Presbiteriana Mackenzie é uma instituição de ensino confessional presbiteriana, filantrópica e de perfil comunitário, que se dedica às ciências divinas, humanas e de saúde. A instituição é comprometida com a formação de profissionais competentes e com a produção, disseminação e aplicação do conhecimento, inserida na sociedade para atender suas necessidades e anseios, e de acordo com princípios cristãos. O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora e responsável pela gestão administrativa dos campi em três cidades do País: Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ). As Presbiterianas Mackenzie têm missão educadora, de cultura empreendedora e inovadora. Entre seus diferenciais estão os cursos de Medicina (Curitiba); Administração, Ciências Econômicas, Contábeis, Direito (Brasília e Rio); e Engenharia Civil (Brasília). Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.

Winz

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