Qual o destino do financiamento público de campanhas eleitorais?
O Brasil é um país sui generis
João Miras
Um país com altíssimas taxas de desemprego, mas que os trabalhadores preferem ter direitos trabalhistas ao próprio emprego — porque, afinal, cada vez menos empreendedores conseguem gerar empregos com tantos encargos.
O Brasil também é um país sui generis porque aqui relegamos o ensino básico ao sucateamento, mas investimos dinheiro público para formar graduados superiores em faculdades estatais.
Sui generis porque a Corte Suprema se vê obrigada a legislar e o parlamento, mesmo num país presidencialista, governa.
Sui generis porque as estradas, os carros e o combustível são piores que nos EUA, mas custam bem mais caro devido aos tributos.
Sui generis porque aqui não permitimos que um empresário, que sequer tenha contrato com o poder público, possa apoiar financeiramente uma campanha eleitoral, mas que o erário (dinheiro do povo) banque 3 bilhões de reais para os chefes de partidos distribuírem ao seu bel-prazer, criando as estatais partidárias.
Transformamos os partidos em empresas e, pior... públicas! Agora, no Brasil, os partidos políticos são empresas públicas com seus “CEOs” políticos gerindo polpudos orçamentos e investindo em fábricas de laranjas e sabe-se lá em que outras frutas e hortifrútis. Nada impede que um partido invista sua “receita” na bolsa de valores, por exemplo. Ainda terão dividendos.
Quando o Congresso assim legislou, estava legislando pelos caciques políticos, não pelos políticos dos rincões, dos distritos, das áreas urbanas das pequenas cidades, legítimos representantes-raiz do cidadão na ponta da necessidade real.
Candidatos a prefeito e vereador de cidades médias e pequenas agora percebem que não haverá irrigação até os fundamentos das raízes destas grandes árvores partidárias, e eles serão presas fáceis de financiadores interessados em tirar vantagem do erário.
Tenho dito nas minhas palestras para os políticos do interior que não cedam e pensem mais em sua carreira política do que na próxima eleição, porque é como está no meu 2º livro: “Há políticos que têm um comportamento de página, não de livro”.
Trabalho com comunicação de prefeituras e campanhas eleitorais no interior há mais de 30 anos, pasmem, desde quando o caixa 2 das empresas jogados nas campanhas não tinha qualquer correlação com obras públicas. Empresários ajudavam para serem bajulados pelos poderosos de turno e se contentavam com convites para jantares e eventos oficiais, comendas, zumbaias e babaréus.
Depois, vieram os tempos da institucionalização do “financiamento interessado” e todos os políticos se enlamearam. Com o PT, tudo foi ficando mais organizado (no modo sindical) e começou a escandalizar muitos entre os comunicólogos da velha guarda. Tenho amigos que, como eu, se afastaram da nossa nobre profissão de consultoria política — atividade reconhecida mundialmente —, tamanho o banho de promiscuidade que se entornou sobre a política brasileira.
Não há dúvida de que algo precisava ter mudado. Mas fazer lei sob a fervura de escândalos nunca foi prudente. A solução encontrada para a farra das empreiteiras e dos políticos foi tão radical que piorou o processo.
De há muito advogo que bastaria manter o financiamento das empresas em campanhas, “desde que essa empresa não pudesse ser contratada por qualquer entidade pública ou de economia mista”. Simples! Muito simples!
Mas, não nos esqueçamos, o Brasil é um país sui generis demais para ser simples e, então, agora todos teremos de conviver com a aberração dos 3 bilhões de verba pública que sequer chegam aos candidatos na ponta. E, vejam, aqui não se trata de uma jaboticaba (fruto que, diz-se, tem origem no Brasil). Trata-se, verdadeiramente, de um tatu no alto de um poste. E, sim, alguém botou esse tatu lá!
Lamentável! Já estamos começando muito mal as eleições de 2020.
Artigo de:
João Miras, que é publicitário e estrategista de marketing político eleitoral de governos e partidos.
Obs: É proibida a divulgação desse artigo sem os créditos do autor.
Sobre João Miras:
João Miras é um publicitário ítalo-brasileiro de 56 anos, que já trabalhou em dezenas de cidades, 13 estados brasileiros e em outros 4 países. Realizou mais de 170 trabalhos em 40 anos de profissão. Notabilizou-se na publicidade governamental e eleitoral atuando para agências, produtoras, institutos de pesquisa, partidos e empresas.
Estrategista de marketing político, é reconhecido como um dos grandes public brand makers do Brasil por ter se especializado em planejamento estratégico de comunicação para governos e prefeituras com foco na construção de marcas de governança,
Autor de 2 livros, orientador acadêmico, influenciador digital (20.000 seguidores no Twitter e Facebook) e palestrante com mais de 300 conferências - como as realizadas para a Fundação alemã de estudos políticos Konrad Adenauer e várias universidades -, é também referência no meio acadêmico como fonte de pesquisa para defesa de teses em várias universidades como PUC e Unicamp, entre outras.
Teve seu trabalho citado em livros e além de ser um dos pioneiros em public branded content é especialista em neuromarketing e comunicação subliminar, tendo concedido centenas de entrevistas e escrito artigos para os principais jornais, tvs e portais do Brasil e outros países.
Além de outras agências, foi Diretor de Operações da Propeg-CP, uma das maiores e mais premiadas do Brasil, colecionando prêmios nacionais e internacionais e 9 vezes o prêmio de “Agência do Ano”.
Experiente roteirista, diretor e editor é conteudista de vídeos governamentais, eleitorais e de empresas públicas com foco em marketing digital (redes sociais e canais online). Também ministrou cursos de formação política para as executivas dos maiores partidos do Brasil.
Foi representante brasileiro no 1o Congresso Latino Americano de Consultores Políticos, realizado em San José, Costa Rica, na América Central em 2.002 e é integrante da Alacop (Associação Latino-americana de Consultores Políticos), EAPC (European Association Political Consultant) e um dos primeiros filiados da Abcop (Associação Brasileira de Consultores Políticos).
Aspectos inovadores do trabalho de comunicação executado ao longo de décadas por ele foram tema de 3 teses de doutorado. Mantém escritórios no sudeste brasileiro e nos EUA.
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