Quando desaparece o pudor

Verdadeiramente, o que falta a muitos dos nossos políticos e administradores da coisa pública é comprometimento com os legítimos interesses da sociedade.

Valdemir Caldas
Publicada em 15 de abril de 2019 às 13:09
Quando desaparece o pudor

(*) Valdemir Caldas

Apesar de muita gente ainda não ter percebido, o fato é que há uma relação de causa e efeito entre as mazelas sociais de que padece parcela significativa da sociedade e a corrupção sistêmica, por exemplo, alimentada por alguns de seus representantes nos mais diferentes setores da administração pública. Isso tem ficado cada vez mais evidente, em função das frequentes operações desencadeadas pelo Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas Estadual, pela Polícia Federal e Polícia Civil.

Nesse sentido, soa extremamente saudável o papel da imprensa na divulgação das denúncias envolvendo desvios de comportamento ético dos que meteram as mãos sujas no erário, tonando o assunto mais inteligível, fazendo com que o eleitor se conscientize do seu papel no contexto social e da necessidade de refletir profundamente antes de escolher os que vão representá-lo nos palácios e nas casas legislativas, para, depois, não ter que chorar pelo leite derramado.

Quando um presidente da República, Senador, Governador, Deputado Federal, Estadual, Prefeito ou Vereador comete uma falcatrua com dinheiro do orçamento, extraído dos contribuintes, por meio de impostos, taxas e contribuições, na outra ponta quem sofre as consequências é o cidadão que não tem acesso a serviços públicos de qualidade, é o paciente que morre à mingua no corredor do hospital por falta de atendimento médico, é o produtor rural que não tem estrada para escoar sua produção, é o aluno que não vai à escola porque não tem ônibus escolar e, quando vai, fica com fome, porque alguém resolveu embolsar a grana da merenda. E, assim, por diante.

É decepcionante ver parlamentares cada vez mais preocupados com seus privilégios, de seus familiares e de grupos, relegando os interesses da população a um plano secundário. Poucos são realmente os que se preocupam, por exemplo, com a defesa de políticas públicas sérias, direcionadas para os trabalhadores rurais. Muitos deles se elegem e reelegem vestindo um manto esfarrapado de defensores dos servidores públicos, porém, alçados ao poder, agem como Judas Iscariotes, negociando seus mandatos em troca de sinecuras para acomodarem parentes, aderentes e cabos eleitorais.

O mais revoltante é a facilidade com alguns se lançam na empreitada de embaralhar a cabeça dos menos avisados quanto ao que fazem de errado, achando que todo mundo é idiota para acredita no seu falso moralismo. Hoje, vai à tribuna e deita o relho no lombo da autoridade superior. No dia seguinte, na maior cara de pau, vai ao gabinete implorar-lhe benefícios para si e os que o cercam. Verdadeiramente, o que falta a muitos dos nossos políticos e administradores da coisa pública é comprometimento com os legítimos interesses da sociedade.

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