Quem com general fere, com general será ferido
'O general Marco Antônio Freire Gomes se transformou na principal testemunha de acusação contra Bolsonaro', escreve o colunista Alex Solnik
Jair Bolsonaro e General Marco Antônio Freire Gomes (com a faixa verde) (Foto: Isac Nóbrega/PR)
Bolsonaro sempre gostou de brincar de comandante-em-chefe das Forças Armadas desde que assumiu o Palácio do Planalto. Mandar era com ele mesmo. Principalmente em colegas de patentes superiores à de capitão, com a qual saiu do Exército.
Seu vice, o general Hamilton Mourão, sua primeira vítima, foi rebaixado a persona non grata logo de cara.
Colocou generais na sua copa e cozinha, - Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos - muito bem remunerados, como a dar um recado aos políticos: não mexam comigo, não venham querer me derrubar, que eu derrubo vocês antes.
Quando não conseguiu achar nenhum defensor da cloroquina para o ministério da saúde na classe médica, convocou o general Eduardo Pazuello, que não entendia patavina de medicina, mas aceitou a missão: “um manda, outro obedece”.
Também apelou às Forças Armadas (que chamava de “meu exército”) para pressionar e intimidar o TSE, missão cumprida pelo seu ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que também não entendia nada de eleições nem de urnas eletrônicas, mas topou a missão do “chefe”.
Nem todos os generais foram submissos. Fernando Azevedo não aceitou sua interferência nas Forças Armadas. Caiu do ministério da Defesa, mas não se dobrou. Santos Cruz caiu da Secretaria de Governo por não ser tão radical quanto Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho queriam.
Melhor para eles, que perceberam a tempo quem era a pessoa sentada na cadeira presidencial.
A maior “insubordinação” ao seu comando deu-se na reunião de 5 de julho de 2022, na qual o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, recusou aderir à virada de mesa proposta pelo suposto chefe. Motivo pelo qual foi xingado de “cagão” pelo general Braga Netto. Mas ele não cedeu e o golpe subiu no telhado.
Agora, Freire Gomes se transformou na principal testemunha de acusação contra Bolsonaro, ao revelar, durante dez horas, à Polícia Federal, todos os detalhes sobre o que ocorreu entre a derrota de Bolsonaro nas urnas e sua viagem aos Estados Unidos na véspera da posse de Lula.
Quem com general fere, com general será ferido.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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