O Brasil continua sendo um país em que administradores públicos, abroquelados na certeza da impunidade reinante, não pensam duas vezes em meterem as mãos sujas no dinheiro público. Relatório da Controladoria-Geral da União aponta que trezentos milhões de reais (isso mesmo, trezentos milhões de reais!) destinados a estados e municípios para combater a pandemia da covid-19 foram desviados, mas a CPI da Pandemia, apelidada de “CPI do Circo”, por motivos óbvios, não viu isso. E, se viu, fingiu que não viu, preferindo jogar a sujeira para debaixo do tapete, espetando, assim, mais uma despesa na conta do contribuinte.

O lado desanimador de tudo isso é que, no Brasil, a execução das penas costumam se arrastar por anos a fio. Com isso, os processos acabam recebendo inúmeros recursos. No final das contas, isso acaba dificultando a punição, de fato, dos saqueadores do erário. O pior de tudo é que os que assim procedem sabem perfeitamente o que estão fazendo e agem deliberadamente no sentido de burlar os procedimentos recomendados para a administração dos recursos financeiros, pois acreditam, como eu disse, que realmente vivem num país onde vale apena roubar dada a maleabilidade da legislação brasileira e da condescendência de setores do judiciário. Seria bom que eles passassem a ter uma outra postura, mas isso é utopia.

Não menos preocupante, contudo, é a tolerância de parcela expressiva da sociedade brasileira com os corruptos, incentivando-os, com isso, a continuarem se locupletando do dinheiro público. A ampliação do acesso às informações, a realização de debates nos mais diferentes espaços públicos e privados, além de penas rigorosas e, consequentemente, o ressarcimento do dinheiro roubado, são caminhos saudáveis para que a população brasileira reveja questões como essa e passem a rejeitar a corrupção de maneira enérgica.