Saudades da fumaça

“Sem queimadas, não tem progresso”, por isso as autoridades deviam desobedecer aos europeus e tacar fogo na floresta de novo

Professor Nazareno*
Publicada em 31 de agosto de 2019 às 09:55

O Brasil nunca soube cuidar da Amazônia, embora reclame soberania sobre ela. Todos os anos, desde meados do século passado, que as queimadas e a fumaça são rotinas na região. E todo governo sabe disso, seja ele de direita ou de esquerda. E nenhum nunca fez nada. Rondônia, por exemplo, é filha das queimadas, dos incêndios, da destruição. Lugar amaldiçoado que nasceu da devastação do meio ambiente hoje se junta ao Pará e ao Mato Grosso para saber quem mais destrói o ecossistema. Mas agora, final de agosto, a cidade está quase sem fumaça em seu podre horizonte. O governo local, o governo federal com todos os seus ministérios, as Forças Armadas, os Batalhões Ambientais, as secretarias de meio ambiente, o IBAMA, o ICMBio e outras tantas repartições estão num frenesi jamais visto para conter as labaredas e o fogo na mata.

Até o presidente Jair Bolsonaro, antes um dos maiores incentivadores do fogo e da destruição da Amazônia, entrou na luta para conter as chamas. Decretou moratória nas queimadas por 60 dias e mobilizou as Forças Armadas para enfrentar a fumaceira. Bastou a França e alguns outros países europeus pressionarem, para que as autoridades brasileiras começassem a mostrar serviço. A pergunta que não quer calar: por que o Brasil não agiu dessa forma em anos anteriores? Por que as Forças Armadas, com sua bravura e seus “filhos de Caxias”, nunca entraram em campo para conter o genocídio deste bioma? Até alguns “jornalistas” mequetrefes metidos a falastrões, baixaram o tom e passaram a elogiar publicamente os órgãos de defesa do meio ambiente e também reconhecerem que toda a região estava sob a fumaça e o caos num determinado período.

O brasileiro de um modo geral só age sob pressão. E a França, juntamente com seus pares na Europa, não vai baixar a guarda. Bolsonaro que se cuide. Os incendiários também. Os defensores do caos agora não têm outra saída: ou trabalham direito ou terão que amargar incontáveis prejuízos. Com relação à Amazônia e a sua preservação, o Brasil está sob tutela de Emmanuel Macron. Ironia das ironias: sob forte pressão estrangeira, o “Mito” se tonará o melhor presidente brasileiro a debelar incêndios na região amazônica. Ou faz isso ou se arrisca a perder o acordo MERCOSUL x União Europeia, corre ainda o risco de ver produtos brasileiros sendo boicotados no mundo civilizado ou mesmo de ter a soberania sobre a Amazônia sendo colocada em risco. O falastrão, debochado, arrogante e todo poderoso Bolsonaro agora está sob rédeas curtas.

Porém, eu já estou com saudades da fumaça. Acordo pela manhã e não vejo mais o caos a que estava acostumado. “Sem queimadas, não tem progresso”, por isso as autoridades deviam desobedecer aos europeus e tacar fogo na floresta de novo. Por causa do presidente da França, o rondoniense agora terá que respirar oxigênio em vez de fuligem. Os porto-velhenses deveriam reclamar também da lama no inverno, da ponte escura, da falta de saneamento básico e de água tratada em Porto Velho. E já pensou se um cidadão francês precisa ser internado no “açougue” João Paulo Segundo? Macron deveria ser informado de tudo isso. Tenho certeza de que tomaria providências como fez na questão ambiental. Mas eu tenho uma dúvida: Bolsonaro está agindo assim, como um ambientalista, porque está com medo dos franceses ou por receio de enfrentar um boicote internacional? Terei de vender minha motosserra e meu sítio aos “jornalistas”?

 *É Professor em Porto Velho.

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