Segurança pública é desafio para governantes eleitos em outubro
A reportagem foi conhecer Jaraguá do Sul, uma das cidades mais seguras.
Integração do Poder público, das forças de segurança e da comunidade dão tranquilidade a Jaraguá do Sul - Antonio Cruz/ Agência Brasil
Um dos principais desafios dos governantes a serem eleitos em outubro deste ano será melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Temas como saúde, educação, emprego e segurança estão presentes em pesquisas sobre as preocupações dos brasileiros e os setores que precisam avançar no país. A Agência Brasil vai publicar, a partir desta sexta-feira (20), reportagens sobre boas práticas desenvolvidas pelo país e também sobre os problemas a serem enfrentados. Na abertura da série, o tema será segurança pública.
O Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tem colocado Jaraguá do Sul (SC), como um dos municípios mais seguros do país. Os dados divulgados neste ano revelam que, em 2016, a cidade teve 5,1 homicídios por grupo de 100 mil habitantes.
Na outra ponta está Queimados (RJ), município da Baixada Fluminense, que registrou 134,9 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. A taxa brasileira chegou a 30,3 homicídios por grupo de 100 mil habitantes - 30 vezes maior do que a média da Europa.
Desenvolvimento
Cercada de montanhas da cadeia da Serra do Mar, Jaraguá do Sul fica em um vale no norte catarinense, tem 170 mil habitantes e ainda guarda a tranquilidade de uma cidade do interior. Os vizinhos se conhecem, e qualquer pessoa estranha chama a atenção. No verão, alguns até dormem com as janelas abertas. Outros arriscam deixar o carro destrancado em frente de casa. O índice de mortes violentas na cidade é o terceiro menor do país.
A qualidade de vida em Jaraguá do Sul é evidente. A cidade tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto – 0,803 em uma escala de 0 a 1. As ruas são limpas e 88% das casas têm esgotamento sanitário adequado. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita chegou a R$ 40.504,39 em 2015, enquanto a média nacional foi de R$ 28.876, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 98% das crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos estão na escola.
Cidade industrial com forte presença nos setores metal-mecânico e têxtil, tem alto nível de empregabilidade, principalmente de mão de obra qualificada. Segundo o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (ACIJS), Anselmo Luiz Jorge Ramos, até a crise econômica, o desemprego era de 2% a 3%, agora gira em torno de 7%. “Mas estamos revertendo esse índice”, afirma. A média nacional de desemprego é de 12,7% da população economicamente ativa.
Integração
Além da qualidade de vida, outros fatores são apresentados pelas autoridades e pelos moradores para justificar o título de uma das cidades mais seguras do país, começando por uma integração entre as forças de segurança, o Poder Público e a comunidade. “Aqui temos um bom diálogo entre o Ministério Público, o Poder Judiciário, a Defensoria Pública, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a unidade prisional e a comunidade”, conta o juiz José Aranha Pacheco, da 2ª Vara Criminal de Jaraguá do Sul.
Ministério Público, Justiça e polícia trabalham juntos, diz juiz José Aranha Pacheco - Antonio Cruz/Agência Brasil
No primeiro semestre de 2018, foram registrados três homicídios na cidade. Os índices de furtos e roubos caíram em relação ao mesmo período de 2017. Naquele ano, de janeiro a junho, foram registrados 530 furtos e 61 roubos. Nos primeiros seis meses de 2018, 402 furtos e 38 roubos. Mas o que assusta a cidade é a violência doméstica, especialmente o estupro de vulneráveis praticado por parentes e amigos. Neste ano, foram registradas 45 denúncias de estupro.
Para titular da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso, Leandro Mioto, houve aumento das denúncias de estupro em Jaraguá do Sul - Antonio Cruz/Agência Brasil
Para o titular da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCami), Leandro Mioto Ramos, não houve um crescimento nos casos de estupro na cidade, mas um incremento das denúncias. “Se você vive em uma cidade onde não há atendimento, ninguém denuncia. Para denunciar, a vítima precisa se sentir amparada e segura. Aqui a denúncia é investigada, o infrator é punido e a vítima é acolhida. Então, o que há é um aumento das denúncias, em virtude de um trabalho que encoraja a vítima”, argumenta o delegado.
Proteção
A segurança das vítimas, segundo Mioto, vem não só do trabalho da polícia, mas do Judiciário e da rede de proteção social mantida pelo governo local. Esta rede inclui dois Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), seis Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e equipes multidisciplinares, que acolhem a população em situação de vulnerabilidade social, incluindo mulheres, idosos, adolescentes e crianças vítimas de violência, bem como jovens cumprindo medidas socioeducativas e liberdade assistida.
Há também uma Casa de Passagem, com 18 vagas, para receber adultos em situação de vulnerabilidade. Essas pessoas têm oportunidade de fazer cursos profissionais para reinserção no mercado de trabalho e na família. A cidade tem hoje1.611 famílias beneficiárias do programa Bolsa Família.
Participação
O envolvimento da população com as questões de segurança em Jaraguá do Sul pontua as diferentes análises do que a faz uma cidade tranquila. A população é ativa não só no monitoramento de situações suspeitas e na denúncia de casos de violência, mas principalmente na participação nos conselhos comunitários de segurança. Até agora, foram criados sete conselhos, em diferentes bairros, que debatem e organizam as demandas da comunidade.
Moradora de Jaraguá do Sul há mais de 50 anos, a recepcionista Maria Clarinda Venturelli Gonzaga dos Santos, reconhece que a cidade é segura, mas que mudou bastante nos últimos anos. “A gente fica muito preocupado com os crimes que acontecem nas outras cidades. Aqui a gente fica de olho. Se vemos algo suspeito, um carro suspeito, ligamos para a polícia e denunciamos”, conta.
"Aqui a gente fica de olho. Se vemos algo suspeito, um carro suspeito, ligamos para a polícia”, diz a recepcionista Maria Clarinda Venturelli Gonzaga dos Santos - Antonio Cruz/Agência Brasil
O gerente de hotel Everton Rodrigo Pacheco nasceu em Florianópolis, mas mora em Jaraguá do Sul há nove anos. Foi para lá em busca de melhores oportunidades de emprego. Não só conseguiu trabalho como conquistou uma vida mais tranquila. E nota a diferença quando deixa a cidade para passear ou trabalhar. “Aqui as pessoas não deixam as coisas acontecerem. Se vêm algo errado, denunciam. Em outros lugares, as pessoas fazem de conta que não estão vendo”, afirma.
Campanhas
Segundo Pacheco, há alguns meses, foi tomar um café na padaria em frente ao hotel, no centro da cidade. Em uma mesa, estava um casal que começou a discutir alto, e o homem ameaçou agredir a mulher. “Em poucos minutos chegou a polícia. O homem estava alterado e perguntou: quem chamou a polícia? O gerente da padaria respondeu: eu chamei a polícia. Aqui é assim”, diz Pacheco, apontando para a padaria onde presenciou o incidente.
Os empresários de Jaraguá do Sul também se mobilizam para ter uma vida mais segura. A Associação Empresarial tem núcleos temáticos para cuidar não só da segurança, mas de outros setores como educação, saúde, emprego, meio ambiente, entre outros. Esses núcleos são responsáveis por campanhas financeiras para bancar serviços essenciais, inclusive compra de armas para a Polícia Militar ou de equipamentos para o hospital.
“Nós sabemos que, para termos um funcionário com boa produtividade, ele tem que viver com dignidade em uma cidade pacífica e ordeira”, afirma Ramos.
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