Sexo, eleições e rock’n’roll

O poder é inebriante; e a disputa por ele é afrodisíaca

Edson Lustosa
Publicada em 30 de janeiro de 2020 às 18:22
Sexo, eleições e rock’n’roll

Aproxima-se a disputa eleitoral e os narizes que ainda preservem alguma sensibilidade são capazes de detectar no ar o cheiro da desfaçatez, do cinismo, da traição, da ganância e, muitas vezes, dos sabonetes, e shampoos de motel. Essa é a realidade. E o profissional que for ofertar seus serviços técnicos, suas consultorias de marketing, seus planejamentos de comunicação, deve ter consciência disso.

Nos locais de reunião política, infestados de proxenetas, sejam escritórios, gabinetes, diretórios ou hotéis, aquilo de que menos de fala – pois o que vale aí são as silenciosas trocas de olhares e as lacônicas negociações de preço – é o que mais influencia as tomadas de decisão nas contratações e formações de equipe. É natural: cada um dá o que tem.

O poder é inebriante; e a disputa por ele é afrodisíaca. Quanto mais se aproximam as eleições, quanto mais acirrada e extenuante é a disputa, ainda maior, portanto, é a importância que os intermediadores de serviços sexuais assumem nas máquinas de campanha. Lá pras tantas, decidem sobre qualquer matéria: são uma espécie de consultores gerais, opinam sobre as peças publicitárias, definem direcionamento de verbas, determinam a agenda do candidato.

Derrotada a chapa, serão os primeiros a serem acomodados nos cargos conquistados com os acertos feitos nas composições de segundo turno, ou nos postos já consolidados como conquista do grupo partidário na eleição de dois anos antes. De tal sorte que, no que a eles se refere, não há que se falar propriamente em derrota. O que explica não terem estado em momentos algum efetivamente preocupados com o sucesso da empreitada eleitoral.

Na banda vencedora, só empatarão em prestígio com os agiotas. Aos quais não tardarão em também os incluir em sua clientela. E aí o que a população terá pela frente é a mera repetição de insucessos, que tendem a se agravar quando o mandatário enfrenta uma maior dificuldade para discernir entre o marketing eleitoral e o marketing governamental, entre o que já acabou e o que já deveria ter começado. Note-se que tal problema se agravou ainda mais depois que se instituiu a reeleição em nosso país.

E a culpa? Ora, a culpa, dirão com a cara deslavada, é de quem estava antes – o que não é de todo mentira! Acontece que a manipulação retórica ocorre justamente desde aí: desde que se induz a população ignara a embarcar na onda de inventariar culpas, quando na verdade o que deve é identificar responsabilidades. Deixem-se as culpas para os inquéritos, denúncias e processos. É na cobrança de responsabilidades que se consubstancia uma cidadania proativa.

Ninguém venha se lamentar do que encontrou em uma máquina administrativa cujo controle disputou acirradamente. Ninguém é assume um mandato eletivo por acaso, senão depois de incansável disputa. Há uma responsabilidade administrativa que não se herda, mas se assume. E invariavelmente se o faz com o discurso de que se é a pessoa mais indicada para assumir e resolver. Ser chefe de um Executivo exige a consciência de que cada um sabe onde enfia seu nariz. Ou deveria saber.

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