Silêncio nos 60 anos do golpe será erro histórico

"A memória não é só o tempo passado, ainda que o passado pertença à memória", escreve Jeferson Miola

Jeferson Miola
Publicada em 11 de março de 2024 às 15:38
Silêncio nos 60 anos do golpe será erro histórico

(Foto: Reprodução)

A opção pelo silêncio nos 60 anos do golpe de 31 de março de 1964, se confirmada, será um erro histórico. E deverá ser interpretada na caserna como sinal de medo e fraqueza.

As cúpulas militares se sentirão ainda mais empoderadas, apesar do momento que vivem, de enorme desgaste e desmoralização, com oficiais da alta hierarquia e ex-comandantes a caminho da prisão por atentarem contra a democracia.

O acuamento transmite a péssima mensagem de submissão da soberania popular ao Poder Moderador e à tutela que os militares não desistem de exercer sobre o poder político e as instituições civis.

Seria um despropósito silenciar em troca dos quartéis não lerem ordem do dia elogiosa ao golpe, que eles chamam de “revolução”, “movimento de 64”.

Uma troca inaceitável, por uma razão simples: os militares são obrigados a observar a Lei, e celebrar ou fazer apologia aos crimes de abolição do Estado de Direito e da deposição do governo legitimamente eleito de João Goulart constitui ato criminoso.

Rememorar os 60 anos do golpe militar que levou à ditadura de 21 anos não significa remoer o passado, mas sim semear o solo do presente com a semente da planta que pode garantir a democracia no futuro: a árvore da memória.

A memória não é só o tempo passado, ainda que o passado pertença à memória.

A memória é, também, o tempo presente. E é, ainda, o tempo futuro.

Não há futuro democrático possível sem memória histórica, sem verdade, sem justiça e sem a reparação pelos horrores da ditadura.

Nenhum brasileiro e nenhuma brasileira de todas as gerações –tanto das atuais como das que virão– pode ser privado de conhecer e visitar o passado do seu país, por mais infame que esse tenha sido.

E a ninguém é dado o direito de passar uma borracha para apagar a história nacional, menos ainda em nome de uma suposta conciliação com o inconciliável e em nome da consciência democrática nacional que clama por memória, verdade, justiça e reparação.

O esquecimento funciona como fermento do espírito conspirador e autoritário que domina a caserna em toda história da República, desde seu nascimento com o golpe militar de novembro de 1889 até os dias atuais.

A tentativa do golpe que por muito pouco não se concretizou em 2022 evidencia como a democracia brasileira continua débil e sob a ameaça permanente dos militares – que são o fator principal e constante de ameaça à democracia.

Não haverá segurança democrática no Brasil enquanto não forem aprendidas as lições de 21 anos da ditadura implantada com o golpe civil-militar de 31 de março de 1964.

Jeferson Miola

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