Só os bancos ganham (e muito!)

Essas as razões pelas quais a economia está em estagnação desde o golpe

Emir Sader
Publicada em 05 de março de 2020 às 17:17
Só os bancos ganham (e muito!)

Sociólogo Emir Sader afirma que "o que acontece no Brasil, desde que foi restabelecido o modelo neoliberal, com o golpe de 2016, é o restabelecimento da centralidade do capital financeiro. São os bancos que se enriquecem, às custas do crescimento produtivo e das políticas de distribuição de renda, dos governos do PT"

Como é possível que  economia não cresça há três anos (pelo menos), mas os balanços dos bancos apontem sempre recordes de lucros? Significa que não falta dinheiro, ninguém queimou dinheiro. Mesmo a fuga de capitais não basta para dizer que falta dinheiro no país. Ela ainda não é de dimensões suficientes para dizer que falta dinheiro no país.

Não falta dinheiro, mas ele está nas mãos de quem não faz investimento produtivo, que gera bens e empregos. Cada final de dia, quando se anuncia que a Bolsa de Valores de São Paulo cresceu não sei quantos milhões, não se gerou um bem, nem um emprego. Foram trocas de papéis de uma empresa para outra. Pura especulação financeira.

Então, de onde vem o enriquecimento ainda maior dos bancos? Se uma pessoa entra num banco, se dirige ao balcão e diz ao funcionário que quer abrir uma poupança com cem reais, logo ouve que se trata do melhor investimento do mundo, que no mês que vem ele volta e vai receber algo como 104 reais. 

A mesma pessoa dá a volta no balcão, chama o mesmo funcionário e lhe diz que precisa de 100 reais emprestado. O funcionário pega a mesma nota e lhe oferece, dizendo que ele vai resolver sua vida com essa operação. Que volte no mesmo seguinte e lhe pague algo como 125.

É um cálculo aproximado, mas da ideia de como os bancos ganham: pela diferença entre o que pagam e o que cobram. O que eles chamam de “spread”- palavra em inglês que ajuda a esconder o caráter do mecanismo, é um ganho puramente especulativo, de quem vive do endividamento de governos, de empresas e de pessoas. Daí vem a acumulação de riqueza do capital financeiro. E quanto mais endividamento, mais os bancos lucram.

O capital financeiro, que em outras épocas do capitalismo era uma capital de apoio ao capital produtivo, ganhou, no neoliberalismo, um papel central, protagônico, subordinando as outras modalidades de capital e passando a ser o eixo do processo de acumulação.  A atração da esfera financeira fez com que se desse, em escala global, uma gigantesca transferência de capitais da esfera produtiva à financeira. Esta, por sua vez, assumiu um caráter especulativo.

A taxa de juros muito mais alta que a taxa de lucros – proveniente do investimento produtivo -, funciona como atração irresistível para os investidores. Os impostos baixos ou inexistentes que os governos estabelecem, para atrair capitais, é outro fator que explica a polarização da esfera financeira. O terceiro, é a liquidez praticamente total: se algo contraria o ânimo dos investidores, eles acionam um botão e transferem os capitais para outro país e outra bolsa de valores.

Por isso o capitalismo passou de um ciclo longo expansivo, do final da segunda guerra mundial até o anos 1970, para um ciclo longo de caráter recessivo, vigente desde então. Aquele tinha seu eixo em grandes empresas monopolistas de caráter produtivo, passou ao setor financeiro, de caráter especulativo. A espinha dorsal das economias atualmente é o capital financeiro.

O que acontece no Brasil, desde que foi restabelecido o modelo neoliberal, com o golpe de 2016, é o restabelecimento da centralidade do capital financeiro. São os bancos que se enriquecem, às custas do crescimento produtivo e das políticas de distribuição de renda, dos governos do PT.  

Essas as razões pelas quais a economia está em estagnação desde o golpe. A retração do Estado e das políticas de indução da expansão econômica e das políticas sociais, liberando a ação do capital financeiro, levaram a essa situação. O país está mais pobre, mas o capital financeiro e o conjunto dos ricos estão mais ricos.

E tentam se valer da recessão para retomar sua agenda, como se o que se pudesse fazer seria aprofundar os projetos neoliberais, incluindo as privatizações. Quando, aprendendo do que o Brasil viveu neste século, se deve caminhar na direção oposta. Retomar o papel ativo do Estado, como indutor do crescimento econômico e das políticas sociais redistributivas de renda. Quebrar a hegemonia do capital financeiro sobre a economia, com tributação das movimentações financeiras, com reforma tributária em que quem ganha mais, paga mais, com tributação às grandes fortunas e às heranças.

O Brasil precisa voltar a crescer e a distribuir renda. Esse caminho foi abandonado quando o golpe de 2016 terminou com a democracia e restabeleceu o reinado dos bancos e da especulação financeira. Democracia política e social caminham juntas e precisam voltar juntas para o Brasil retomar o caminho de um país menos injusto e desigual.

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

Comentários

  • 1
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    Sebastião Farias 26/03/2020

    Concordo e acho uma boa observação, caro Emir. No entanto, não devemos esquecer que tudo isso de ruim que nos acontece, é mais grave ainda, porque, resulta da vontade de um povo alienado e sem noção cidadã e patriótica e, capaz de sentir o perigo que sempre rondou e ronda, a democracia e o estado de direito do Brasil e, que sequer, medita sobre a sua condição de cidadão livre e responsável, à luz do Parágrafo único do Artigo 1º da CF diz “ Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Urge que todos acordem para a necessidade de conhecer pelo menos, os 07 primeiros Artigos da Constituição Federal, da Constituição Estadual e da Lei Orgânica do Município, aliados ao Inciso X do Artigo 49; aos Artigos 70 a 75 e; ao §1º do Artigo 166 da Constituição Federal, dentre outros. E então o que se vê é um Congresso Nacional temeroso e assustado e, os Poderes Legislativos estaduais e municipais que representam o povo e o Estado brasileiro ao que parecem, infelizmente, subjugados e alinhados aos Poderes Executivos, num confronto desrespeito ao Artigo 2º da Constituição Federal, cuja maioria dos parlamentares se sujeitam a isso por vaidade do poder e, para satisfazerem-se politicamente e, terem algumas vantagens pessoais em tudo isso, daí, aprovam essas Políticas Públicas, estratégias várias e projetos nocivos ao país e prejudiciais ao povo, à revelia, ao que parece, do Artigo 3º da CF. E pior ainda, por serem eles, os Poderes Legislativos também, fiscais constitucionais do povo, são por isso, tão culpados por esses resultados nacionais insatisfatórios, por se omitirem dessa responsabilidade e, por permitirem essas desconformidades constitucionais acontecerem, tanto quanto os Poderes Executivos, que executam as Políticas Públicas e seus desdobramentos, com desconformidades e prejuízos de recursos, de obras e serviços públicos sem qualidade e sem boa funcionalidade, para todos os cidadãos, os seus patrões.. Essas verdades do nosso dia-a-dia e constitucionais, para os cidadãos, é tabu, porque a maioria acha mesmo, que o funcionamento institucional correto seria esse mas não é (vide a Constituição Federal) e para os cristão deslumbrados e desviados da fé, abram os olhos para a Verdade e, atentem para o que Paulo aconselha Timóteo: “Estas coisas te escrevo, mas espero ir visitar-te muito em breve. Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.” (1Tm 3,14-15). têm que conhecerem, têm que saberem e têm que delas se lembrarem sempre, para que não só aprendam a avaliar e a votarem conscientes, em candidatos de sua confiança e comprometidos com a casa do povo e da nação mas, principalmente, para que na hora de pedirem conta mensalmente de todos os membros dos poderes executivos locais, das obras contratadas/executadas e dos serviços públicos prestados e executadas com recursos do povo, para o seu bem-comum e melhoria de vida. Essas verdades constitucionais servem também, para que na hora de responsabilizarem os criminosos dos interesses públicos, do povo e do Estado, não esquecerem de incluir os membros responsáveis do Congresso Nacional, dos poderes legislativos estaduais e/ou municipais quando for o caso e, dos tribunais de contas competentes e coniventes, com essas desconformidades, como coautores desses malfeitos e dos crimes constitucionais efetivados, nos competentes processos investigativos e corretivos, de acordo com as leis e as normas específicas para cada caso. São atos com esses que os homens públicos infiéis ao povo, nos mostram, segundo a Bíblia Sagrada, as ações e obras do anticristo, obras essas más, iníquas e que promovem o aumento das desigualdades quando, deveriam ser voltadas para o bem-comum, promoção da vida, do direito, da justiça e da fraternidade dos cidadãos e que, tudo isso, fosse de pleno conhecimento de todos os cidadãos em nosso país e no mundo e, principalmente, pelos políticos, autoridades competentes e religiosos alinhados e desviados da verdadeira fé em Deus (São Mateus 28, 18-20). Que a verdade, o amor ao próximo e a justiça imparcial inspirada por Nosso Senhor e Nosso salvador, toquem os corações dessas pessoas más dos 03 Poderes do Brasil e, transformem-nas, em pessoas boas, éticas, corretas e comprometidas com o bem-estar do povo que nelas confiou e, faça com que seus atos de hora em diante, se realizem e se transformem em boas obras e atos justos e corretos e, que sejam positivos, construtivos e, voltados sim, plenamente, para o bem-estar comum, à paz social, à justiça social e fiscal através de um Salário Mínimo em torno de U$ 800,00 (oitocentos dólares americanos), à geração de emprego, de renda e de segurança das famílias brasileiras. Da mesma forma, que seus atos e ações, sejam voltadas à eliminação da pobreza, da miséria e da desigualdade e através de investimentos produtivos estratégicos, de acordo com as necessidades/potencialidades e peculiaridades regionais e também, que o fortalecimento do mercado interno do país tenha prioridade em relação às imposições e vontades do mercado internacional, tendo em vista que as necessidades do povo brasileiro são prioridades que, não devem se sujeitarem a nada de fora do Brasil, etc, pois esse, é o segredo para a nação vencer essa crise e seguir sua vocação natural de potência econômica sustentável, independente, soberana e não alinhada ideologicamente, para satisfação e segurança da sua população e, para o pleno desenvolvimento do Brasil (2Tm 3,1-17) e da América Latina. Essa sabedoria que a Bíblia nos proporciona e nos mostra também, como identificarmos o anticristo nos dias atuais, pois São João em sua profecia de advertência aos cristãos primitivos, nos deixa sinais indicativos sobre isso, na atualidade e até o final dos tempos, pois a Igreja de Jesus Cristo (Mt 16, 13-19) que é eterna e, como Jesus garantiu: “nunca o mal prevalecerá sobre ela”. És o que ela diz:“Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos.”(1 João 2, 18-19 ). São Pedro confirma o que S. João advertiu sobre o anticristo: “Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astúcia. Há muito tempo a condenação os ameaça, e a sua ruína não dorme.” ( Pedro II 2, 1-3). Está feito, os males que se abatem contra as pessoas na atualidade, em todo o planeta e, em especial no Brasil e que, obrigam as pessoas, independente de idade, raça, credo, status social, etc, a fazerem uma parada para meditarem e, na provação e na dor, lembrarem que Deus existe e que, neste momento, todos estamos em suas mãos e dependentes de Sua imensa misericórdia. Humilhemo-nos, peçamos perdão pelos nossos erros e pecados e, reconheçamos que todos somos iguais e irmãos, cujo Pai e Senhor é Deus. Que os governadores unidos, já que o governo federal não demonstra interesse,tomem a iniciativa de junto com cientistas da FIOCRUZ, de fazerem consulta ao governo de Cuba, sobre a verdade da eficiência do seu medicamento Inteferon Alfa 2B contra o COVID-19 e, depois de sua comprovação por nossos cientistas, tomarem a iniciativa de adquirirem lotes adequados a serem distribuídos às populações necessitadas, por cada região do País. São essas, as nossas considerações sobre a matéria e, sugestões às autoridades competentes para agirem, proativamente. Paz e bem. Sebastião Farias Um brasileiro Nordestinamazônida

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