Um dos pais do Real expõe a farsa da tática para sabotar Lula

“Winston Fritsch repete várias vezes que o discurso da questão fiscal é uma tapeação a serviço do mercado”, escreve o colunista Moisés Mendes

Fonte: Moisés Mendes - Publicada em 22 de junho de 2024 às 10:44

Um dos pais do Real expõe a farsa da tática para sabotar Lula

Winston Fritsch (Foto: Reprodução/YouTube)

É mais do que esclarecedora, é demolidora a entrevista que o economista Winston Fritsch concedeu à Folha essa semana. Um dos pais do Plano Real esclarece pelo que diz e pelo que não precisa ser dito. Isso é o que ele diz: 

“Não se pode dizer que os juros estão onde estão por causa do fiscal. É por causa do choque da inflação pós-Covid. A resposta do Banco Central, independente, foi dada um ano antes dos Estados Unidos, e foi muito violenta. Mas funcionou. Só que, agora, para baixar, começa o lero-lero de ‘pô, olha o fiscal’. Mas não foi o fiscal que fez a taxa subir. Foi o choque exógeno da inflação. E com os juros americanos de curto prazo a 5,5%, não dá para baixar muito por aqui. Se baixa muito no Brasil, tem êxodo de capital, o dólar vai para o espaço. É o que está acontecendo”.

O resto é complemento do seu argumento e nem precisaria estar aqui, para que se saiba o que ele não disse. O que Fritsch deixou subentendido é que toda a conversa sobre a questão fiscal, que sustenta a argumentação do mercado, do Banco Central e da grande mídia, é uma farsa.

A ladainha fiscal não deveria ser usada para explicar a atual calibragem do juro. Mas é usada (e isso Fritsch não precisa dizer) para acossar e imobilizar o governo, jogá-lo às hienas da Faria Lima e criar manchetes com a sabotagem de Folha, Globo e Estadão.

O que fica claro na entrevista é que o argumento da direita é usado para inviabilizar o governo e culpá-lo publicamente pelo juro alto. Quem diz não é um economista de esquerda.

Vamos seguir em frente com a explicação de Fritsch, que leva a um desfecho arrasador:

“Toda vez que aparece a ideia de que o juro vai cair, o dólar sobe. Virou uma espécie de armadilha. Porque veio a crise, o juro subiu. Os americanos subiram, e temos agora um patamar que é dado pela conta de capital, não mais pela economia interna. Então, tem que ficar esperando o Fed (o BC americano) baixar o juro para a gente ir atrás”.

E chegamos então ao gran finale da entrevista, quando o entrevistador Fernando Canzian insiste em dizer que “o calcanhar de Aquiles continua sendo o fiscal”. Eis o trecho com a resposta:

“Agora, o juro está alto por causa do fiscal? Bullshit (bobagem). Está alto pela taxa do Fed a 5,5% ao ano. Mas aparece todo o discurso conservador da Faria Lima”. 

Vamos repetir: a questão fiscal é uma asneira, uma conversa fiada, uma farsa. Mas mesmo assim o que prevalece, com a insistência em torno do corte de gastos, é “o discurso conservador da Faria Lima”.

Fritsch define a defesa do arrocho fiscal, com cortes na educação e na saúde, como propõem os jornalões, como discurso conservador do mercado financeiro, porque é uma pessoa educada. 

É mais do que isso, é a pregação rentista, que concilia interesses imediatos dos donos do dinheiro com os interesses políticos do bolsonarismo articulado com Roberto Campos Neto.

O que Fritsch reafirma várias vezes é que o principal argumento para que os juros sejam altos é falso. O que ele não precisa dizer é que nunca antes um argumento pretensamente econômico do mercado financeiro e do BC se prestou tanto ao ativismo político de direita e extrema direita como agora. 

Só o que faltou na fala de Fritsch foi uma referência direta a Campos Neto, que é apenas o capataz do mercado e está a caminho de colocação num emprego do bolsonarismo, como fez Sergio Moro.

A Folha deu à entrevista esse título: “Há tarefas inacabadas, mas juro alto não é problema só do fiscal, diz um dos pais do Real”.

Essa relativização, essa história de “não é problema só do fiscal”, não aparece em nenhuma frase e nem poderia ser usada como resumo do que disse o economista. Fritsch não diz nada disso. Não tem nada de não é ‘só’ do fiscal. O que tem é: o juro alto hoje não é culpa da questão fiscal.  

O que ele repete está nessa sequência de frases. Vamos ler de novo. Primeira frase: “E não se pode dizer que os juros estão onde estão por causa do fiscal”. Segunda frase: “Mas não foi o fiscal que fez a taxa subir”. E a terceira e definitiva frase: “Agora, o juro está alto por causa do fiscal? Bullshit”. Ou dito sem volteios: é uma conversa de merda mesmo.

O resumo da entrevista, para rimar com tapeação e bobagem, é esse: a tática do mercado, do BC e das corporações de mídia é parte da sabotagem.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

787 artigos

Um dos pais do Real expõe a farsa da tática para sabotar Lula

“Winston Fritsch repete várias vezes que o discurso da questão fiscal é uma tapeação a serviço do mercado”, escreve o colunista Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 22 de junho de 2024 às 10:44
Um dos pais do Real expõe a farsa da tática para sabotar Lula

Winston Fritsch (Foto: Reprodução/YouTube)

É mais do que esclarecedora, é demolidora a entrevista que o economista Winston Fritsch concedeu à Folha essa semana. Um dos pais do Plano Real esclarece pelo que diz e pelo que não precisa ser dito. Isso é o que ele diz: 

“Não se pode dizer que os juros estão onde estão por causa do fiscal. É por causa do choque da inflação pós-Covid. A resposta do Banco Central, independente, foi dada um ano antes dos Estados Unidos, e foi muito violenta. Mas funcionou. Só que, agora, para baixar, começa o lero-lero de ‘pô, olha o fiscal’. Mas não foi o fiscal que fez a taxa subir. Foi o choque exógeno da inflação. E com os juros americanos de curto prazo a 5,5%, não dá para baixar muito por aqui. Se baixa muito no Brasil, tem êxodo de capital, o dólar vai para o espaço. É o que está acontecendo”.

O resto é complemento do seu argumento e nem precisaria estar aqui, para que se saiba o que ele não disse. O que Fritsch deixou subentendido é que toda a conversa sobre a questão fiscal, que sustenta a argumentação do mercado, do Banco Central e da grande mídia, é uma farsa.

A ladainha fiscal não deveria ser usada para explicar a atual calibragem do juro. Mas é usada (e isso Fritsch não precisa dizer) para acossar e imobilizar o governo, jogá-lo às hienas da Faria Lima e criar manchetes com a sabotagem de Folha, Globo e Estadão.

O que fica claro na entrevista é que o argumento da direita é usado para inviabilizar o governo e culpá-lo publicamente pelo juro alto. Quem diz não é um economista de esquerda.

Vamos seguir em frente com a explicação de Fritsch, que leva a um desfecho arrasador:

“Toda vez que aparece a ideia de que o juro vai cair, o dólar sobe. Virou uma espécie de armadilha. Porque veio a crise, o juro subiu. Os americanos subiram, e temos agora um patamar que é dado pela conta de capital, não mais pela economia interna. Então, tem que ficar esperando o Fed (o BC americano) baixar o juro para a gente ir atrás”.

E chegamos então ao gran finale da entrevista, quando o entrevistador Fernando Canzian insiste em dizer que “o calcanhar de Aquiles continua sendo o fiscal”. Eis o trecho com a resposta:

“Agora, o juro está alto por causa do fiscal? Bullshit (bobagem). Está alto pela taxa do Fed a 5,5% ao ano. Mas aparece todo o discurso conservador da Faria Lima”. 

Vamos repetir: a questão fiscal é uma asneira, uma conversa fiada, uma farsa. Mas mesmo assim o que prevalece, com a insistência em torno do corte de gastos, é “o discurso conservador da Faria Lima”.

Fritsch define a defesa do arrocho fiscal, com cortes na educação e na saúde, como propõem os jornalões, como discurso conservador do mercado financeiro, porque é uma pessoa educada. 

É mais do que isso, é a pregação rentista, que concilia interesses imediatos dos donos do dinheiro com os interesses políticos do bolsonarismo articulado com Roberto Campos Neto.

O que Fritsch reafirma várias vezes é que o principal argumento para que os juros sejam altos é falso. O que ele não precisa dizer é que nunca antes um argumento pretensamente econômico do mercado financeiro e do BC se prestou tanto ao ativismo político de direita e extrema direita como agora. 

Só o que faltou na fala de Fritsch foi uma referência direta a Campos Neto, que é apenas o capataz do mercado e está a caminho de colocação num emprego do bolsonarismo, como fez Sergio Moro.

A Folha deu à entrevista esse título: “Há tarefas inacabadas, mas juro alto não é problema só do fiscal, diz um dos pais do Real”.

Essa relativização, essa história de “não é problema só do fiscal”, não aparece em nenhuma frase e nem poderia ser usada como resumo do que disse o economista. Fritsch não diz nada disso. Não tem nada de não é ‘só’ do fiscal. O que tem é: o juro alto hoje não é culpa da questão fiscal.  

O que ele repete está nessa sequência de frases. Vamos ler de novo. Primeira frase: “E não se pode dizer que os juros estão onde estão por causa do fiscal”. Segunda frase: “Mas não foi o fiscal que fez a taxa subir”. E a terceira e definitiva frase: “Agora, o juro está alto por causa do fiscal? Bullshit”. Ou dito sem volteios: é uma conversa de merda mesmo.

O resumo da entrevista, para rimar com tapeação e bobagem, é esse: a tática do mercado, do BC e das corporações de mídia é parte da sabotagem.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Comentários

  • 1
    image
    DOMINGOS 25/06/2024

    ESTA E A VERDADEIRA REALIADADE, BC VIROU BADERNA NA ECONOMIA BRASILEIRA, CONVERTIDO PARA SER COLONIA...

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