X, Rumble e a chantagem contra o Brasil
Estamos, mais uma vez, sob ataque à democracia. Desta vez, a soberania nacional é vilipendiada pelos “patriotas”

Alexandre de Moraes e Elon Musk (Foto: Reuters)
A arrogância e a agressividade de Elon Musk com o governo e a Justiça brasileira são para lá de preocupantes. Em novembro do ano passado, o bilionário afirmou, do alto de sua plataforma, o X, que Lula não seria reeleito em 2026. Naquele momento, o instituto de pesquisa Quaest apontava que a aprovação de Lula estava em 51% e a desaprovação atingia 45%.
Ainda em novembro, nas redes sociais, foi deflagrada uma onda de fake news pela extrema direita, visando desacreditar o governo federal. A mais viral delas dizia que o Pix seria taxado. Somado a isso, houve a inflação dos alimentos. A resposta foi imediata: no fim de janeiro, a desaprovação do presidente já era superior à aprovação: 49% a 47%. Agora, em fevereiro, a desaprovação subiu ainda mais, ultrapassando os 60% nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Essa queda vertiginosa em menos de três meses tem todas as digitais das big techs. São elas que controlam os algoritmos de maneira política para favorecer os interesses da extrema direita. No Brasil, isso significa favorecer a vertente bolsonarista.
Não à toa, na semana passada, o Partido Liberal (PL) promoveu um evento em conjunto com as principais plataformas estadunidenses: Meta, Google e X. Nos banners espalhados no espaço do congresso, frases como “As maiores Big Techs do mundo com o maior partido do Brasil” e “Em defesa da democracia e da liberdade de expressão dos brasileiros” e ainda “Não vamos desistir do Brasil”. Maior clareza dessa comunhão de ideias e propósitos, impossível.
Colaborador ativo do governo Trump, Elon Musk tem assumido a coordenação dos ataques ao governo Lula e ao STF, a Corte maior do país.
Em resposta às sanções movidas pelo STF contra a Rumble no Brasil, Elon Musk defendeu abertamente sanções econômicas ao ministro Alexandre de Moraes, com bloqueio de possíveis bens e investimentos do magistrado nos EUA.
Sobre Moraes, Elon Musk disse, em tom irônico, na sua plataforma: “parece que ele (Moraes) está tentando esconder seus bens”. Diga-se de passagem, que essa possibilidade é bem remota.
Nesta quarta-feira (26/02), o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou uma medida que poderá impedir Alexandre de Moraes de ingressar nos Estados Unidos. O projeto segue agora para o plenário da Câmara dos Deputados e, se aprovado, segue para o Senado.
O Departamento de Estado estadunidense alega que "bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão”. A questão, porém, não é essa. As decisões de Moraes se restringem às publicações feitas pelo foragido da justiça brasileira, Allan dos Santos, na plataforma de vídeos Rumble no Brasil.
Em nota, o Itamaraty afirmou ter recebido "com surpresa" as críticas dos EUA e que "rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais". Está claro, como é dito na nota, que "a manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira pertinente".
Este ataque oportunista contra o Ministro Moraes ocorre justamente quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Bolsonaro por liderar uma tentativa de golpe de Estado.
Estamos, mais uma vez, sob ataque à democracia. Desta vez, a soberania nacional é vilipendiada pelos “patriotas”. Pouco se pode esperar dos que prestam continência à bandeira estrangeira e que, comemorando a vitória de Trump, ostentam desavergonhadamente bonés “MAGA” (make america great again) e que clamam por intervenção estrangeira nas instituições brasileiras. Como diz o ditado, “de onde menos se espera, é que não sai nada” (que preste).
Nesse contexto, penso aqui no quanto é temerária a inércia do governo, do Congresso e da própria sociedade civil. É necessária e urgente a firme defesa das instituições, que são os alicerces da nossa república. E isto deve partir de todos nós.
É indispensável que seja reavivada a indignação nacional, a repulsa ao golpismo, que tanto nos inflamou logo após os atos golpistas do 8 de janeiro.
Espero que não tenhamos ardido em “fogo de palha”. Espero que estejamos conscientes da gravidade desse tempo, em que a manipulação da opinião pública que as redes produzem, instrumentalizadas pelo que há de mais perverso, poderá lançar o mundo numa reprodução piorada das ditaduras nazifascistas dos anos 30 do século passado.
Florestan Fernandes Jr
Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247
212 artigos
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