A banalidade do bolsonarismo

"Temos sido tolerantes com esses que a toda hora falam em meter bala em alguém. Banalizamos e não levamos a sério esse tipo de ameaça", adverte Helena Chagas

Helena Chagas
Publicada em 11 de julho de 2022 às 12:07

www.brasil247.com - Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro (Foto: Reuters)

Outro dia, eu e meu parceiro Mario Vitor Santos, com quem tenho o prazer de dividir um programa na TV 247 às terças e quintas às 10 hs, fomos importunados, no chat do YouTube, por um personagem que se autodenominava "Mete bala nele, mito!". Expliquei a Mete bala que, como qualquer outro, ele era bem vindo em nosso programa, inclusive para criticar, mas pedi que, por favor, não metesse bala em ninguém, porque isso era crime. E seguimos em frente.

Lembro o episódio enquanto me dou conta do quanto temos sido tolerantes com esses brasileiros que a toda hora falam em meter bala em alguém. Banalizamos e não levamos devidamente a sério esse tipo de ameaça - grave até num simples pseudônimo.

No último sábado, um deles meteu bala e matou o guarda municipal Marcelo Arruda, que, em Foz do Iguaçu (PR), tesoureiro do PT local, comemorava seu aniversário numa festa que tinha Lula e o PT como tema. "Aqui é Bolsonaro!", berrou o assassino, um agente penitenciário que chegou ao local num carrão de luxo.

Foi a primeira morte de uma campanha que se anuncia a mais violenta das últimas décadas, como vaticinam todos, com estranha naturalidade. Tem tudo para ser, com mais episódios trágicos  como o de sábado. Se ninguém fizer nada, será mesmo.

É desonesto afirmar que a morte de Marcelo Arruda é resultado do exacerbamento dos ânimos provocado pela "polarização", como se Lula e Bolsonaro, e seus seguidores e militantes, se equivalessem. Não. A morte de Marcelo Arruda é consequência de um movimento chamado bolsonarismo, que armou as pessoas, levou-as a adotar discursos golpistas e jogou o país no mais profundo obscurantismo jamais visto na era pós-redemocratização.

O "lulismo" não está incitando ninguém a meter bala em ninguém, como se fosse a coisa mais normal do mundo - diferentemente do que quis fazer crer o presidente da República, quando comentou o assunto e jogou a violência no colo "da esquerda". Vamos deixar de rodeios, de falsa isenção e dizer a verdade: o responsável por essa barbárie é Bolsonaro. 

Helena Chagas

Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

Comentários

  • 1
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    MILTON LOPES TEIXEIRA 12/07/2022

    Já passou da hora...já passou do ponto. É tardio já que a democracia trate de criar instrumentos eficazes de criminalizar a antidemocracia e todas as vertentes ideológicas que se utilizam dos instrumentos das liberdades individuais para miná-la, corrompê-la, vilipendiá-la. A cada dia mais um pequeno espaço de mentira, de ódio, de estupidez se infiltra na nossa realidade para banalizar-se. Chega. Meu repúdio às pessoas e instituições da democracia que não atuam como delas se espera. De mim sempre terão o bom combate dos argumentos e da tolerância...que não é deixar tudo acontecer. É colocar cada coisa dentro do seu próprio espaço. E quem determina este espaço? A lei...o Estado Democrático e de Direito.

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