A UNIR e o “jeitinho”
Rondônia é um dos poucos Estados do Brasil que não possuem uma universidade estadual ou municipal. E isso é tão vergonhoso quanto inventar “quebra-galhos” absurdos, dispensáveis e anacrônicos.
Unir é a Universidade Federal de Rondônia, embora a sigla não represente corretamente este Estado, cuja sigla é RO e não “R”. É uma universidade “meia-boca” sem nenhum prestígio sequer local ou regional. Lendo-se sua abreviatura, totalmente errada, não há a certeza de que se trata de um órgão federal muito menos em qual Estado se situa. A UFPB, por exemplo, é Universidade Federal da Paraíba. Já a UFPR é, claro, a Universidade Federal do Paraná. Mas o problema da única universidade pública de Rondônia não é somente a sua sigla. Nela funciona, por exemplo, há anos o curso de Medicina sem que haja um hospital universitário. Ali nem uma UPA há. Não duvidaria jamais da competência dos médicos formados por lá, mas um hospital ou até mesmo um “açougue” funcionando ali ajudaria e muito na formação de todos esses profissionais.
Porém, mesmo com toda essa extrema penúria acadêmica, a Unir não é muito frequentada pelos alunos rondonienses. Estes se contentam somente com os cursos de menor procura. Em Medicina, para se ter uma ideia, há uma verdadeira invasão de acadêmicos vindos de outras unidades da federação. Por isso, ouvi falar de um projeto defendido pelo Deputado Federal Léo Moraes no sentido de se discutir a admissão “diferenciada” dos alunos de Rondônia. Um acinte, um absurdo se isso for verdade. Léo Moraes deve ser um homem inteligente e sabe que a Unir é bancada com recursos federais, embora se situe em terras karipunas. Logo, todo aluno de outra unidade da federação tem o direito de não ser barrado ali. Criando esta reserva de vagas se admitiria também que universidades de fora do Estado proíbam rondonienses de estudarem nelas?
Tanto Léo Moraes quando os defensores desta excrescência deviam procurar saber por que alunos de Rondônia não conseguem entrar em sua única universidade pública para estudar e consequentemente atacar o problema e não criar “jeitinhos”. Essa postura me mete medo: os alemães, na década de 30 do século passado, também passaram a discriminar cidadãos não nascidos em território germânico. E deu no que deu. Se este absurdo atemporal for concretizado, seus idealizadores com certeza não pararão por aí. E a próxima medida discriminatória seria talvez a admissão de alunos pela cor da pele, pelo sexo ou pela posição político-filosófica. Léo Moraes certamente entraria para a História deste fracassado Estado se ajudasse a criar uma universidade estadual ou até municipal. Aí sim, poderiam implantar essas barreiras discriminatórias.
Os estudantes rondonienses são bons e têm competência de serem até melhor e mais bem preparados do que os do Sul do país ou de qualquer outra parte do mundo. Sou professor e sei disso. Não podem é querer triunfar da pior forma possível, criando “penduricalhos”, “bolsonarices” e “cláusulas de barreiras” só porque nasceram aqui. As escolas de ensinos Fundamental e Médio de Rondônia têm que melhorar e muito. Principalmente as públicas. E todos nós profissionais da educação temos que lutar para que isso aconteça. Rondônia é um dos poucos Estados do Brasil que não possuem uma universidade estadual ou municipal. E isso é tão vergonhoso quanto inventar “quebra-galhos” absurdos, dispensáveis e anacrônicos. Duvido que os alunos do curso de Direito da mesma Unir, que vão representar o Brasil na Áustria em uma competição mundial, entraram na universidade de forma errada e na mamata. Há como não se orgulhar deles?
*É Professor em Porto Velho.
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Comentários
Mais as universidades federais de outros estados estão aumentando as notas em 15% para estudantes que terminaram os estudos na localidade que estão! E ai isso não é uma forma ?
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