Avisei que ele ia me matar

Nem queiram imaginar como doeu cada golpe, principalmente porque eu pedi socorro.

Luciana Oliveira
Publicada em 19 de março de 2019 às 08:31
Avisei que ele ia me matar

Não deu tempo de “resolver na segunda-feira” tudo o que os policiais pediram, para sobreviver às ameaças do meu ex-marido.

Fui assassinada a pauladas no domingo.

Meu pai tentou me salvar, mas acabou ferido gravemente.

Nem queiram imaginar como doeu cada golpe, principalmente porque eu pedi socorro.

Eu não queria morrer.

Um dia antes, meu ex-marido me agrediu e fiz o que era certo, chamei a polícia.

Ele foi preso, mas liberado mediante o pagamento de fiança de quatro mil reais.

Fui morta em Candeias, município que fica uns 25 km de distância da capital, Porto Velho.

Num áudio que mandei a uma amiga, conto como fui orientada a proceder.

“Eu falei com os policiais daqui e eles me mandaram novamente pra delegacia, segunda-feira de manhã, né, porque não foi apresentada marcas no meu corpo e que se eu não conseguir por lá eles vão registrar uma ocorrência aqui no Candeias, pra me mandar novamente no IML de Porto Velho pra poder fazer a ocorrência e facilitar o meu divórcio”.

Olha a dificuldade de garantir proteção!

Mas, acreditei que ia dar para fazer tudo certinho e evitar o pior.

Pensei até em não ir trabalhar por uns tempos. Eu era professora.

Também falei disso no áudio.

“Eu tô pensando seriamente em ficar afastada pela minha segurança e pela segurança de vocês também. Eu tenho medo, aquele homem é forte. Tu não tem ideia da força daquele homem! No sábado de manhã que eu tava fugindo, foi preciso uns quatro homens na rua segurar ele e os policiais quando chegaram já foram sacando a arma. Ele tem uma força descomunal. ”

Como tantas mulheres mortas por ex-companheiros, eu avisei.

Quando vi a imprensa noticiar 21 casos de feminicídio só na primeira semana de janeiro deste ano, não imaginei que me tornaria também um número nessa vergonhosa estatística.

Em 2018 foram 1173 registros, 12% a mais que em 2017.

Não sei qual o número da minha morte, mas é o de uma mulher que tentou se manter viva.

Imploro pelas que lutam para sobreviver à obsessão e ódio de homens com quem vivem ou deixaram de viver.

Não esqueçam as que tiveram suas vidas interrompidas.

Façam de nós luta diária para garantir atendimento adequado às vítimas e proteção às que sentem ameaçadas.

Delegacia Da Mulher que não funciona 24 horas, não cumpre sua finalidade, pois estamos vulneráveis à violência todo dia e a qualquer hora.

Parem de nos obrigar a pedir socorro em delegacia comum. Esse tipo de crime exige atendimento especializado às vítimas de agressão e tentativas de feminicídio.

Levem a sério nossos pedidos de socorro.

Parem de permitir que nos matem!

Nenhuma mulher merece o epitáfio: podia estar viva.

O crime: https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2019/03/18/professora-morta-por-ex-marido-tentava-se-separar-de-suspeito-ha-dois-meses-diz-amiga.ghtmlhttps://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2019/03/18/professora-morta-por-ex-marido-tentava-se-separar-de-suspeito-ha-dois-meses-diz-amiga.ghtml

Áudio: https://soundcloud.com/rondoniaovivo-web-jornal/exclusivo-professora-alertou-que-marido-era-violento-e-temia-pela-vida

Áudio: https://soundcloud.com/rondoniaovivo-web-jornal/professora-alertou-que-marido-era-violento-e-temia-pela-vida

Comentários

  • 1
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    Henry 20/03/2019

    O crime de "ameaça" contra a mulher, praticado por marido ou companheiro, deve ser tratado com mais rigor pela Lei Maria da Penha. Nesses casos, não podemos permitir que o agressor cumpra a ameaça praticada. Não tenho dúvidas que a professora sofreu várias ameaças antes do criminoso ceifar a sua vida. Prisão temporária já na 1ª ameaça registrada seria um caminho, permitindo, dependendo do caso, o uso de tornozeleira para fins monitoramento do infrator, independentemente de ação penal, bastando apenas à instauração de inquérito policial, estabelecendo pena de reclusão para o crime referido.

  • 2
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    Marcelo 19/03/2019

    Com todo respeito, muito profundo o depoimento e tbm sou à favor que punam esses casos porém, não sei se estou errado mas, deviam colocar a fonte do texto, quem o escreveu ou transcreveu, pois, desta forma que foi repassado para o leitor, dá pra entender que o jornalista tem contato com o além.

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