Banco Central independente de quem?

No Brasil, o neoliberalismo fomentou três balelas, a do estado mínimo, a do Banco Central independente e a do teto de gastos

Francisco Calmon
Publicada em 06 de fevereiro de 2023 às 11:41
Banco Central independente de quem?

Entrada do prédio do BC (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Um dos maiores equívocos da ortodoxia monetária tem sido os métodos de combate à inflação.

Roberto Campos, apelidado pela esquerda de Bob Fields, avô do atual presidente do BC, usou o método da indexação e foi um dos fatores, senão o principal, que jogou o país na hiperinflação.

O sistema econômico se desenvolve pelo consumo e investimento, ambos necessitam de crédito. E o crédito depende dos juros. Com juros altos, quem pode ter crédito? 

As pequenas e médias empresas não conseguem e quando se arriscam é quase certo a falência mais adiante.

As classes médias reduzem o consumo e as compras a prazo, e quando não o fazem, acabam se endividando além de suas possibilidades e ficam inadimplentes, vão para a negociação de suas dívidas e lá novamente encontram os juros elevadíssimos. 

Política econômica e política monetária não podem andar separadas. Essa invenção só teve um propósito: o de proteger e garantir os ganhos do capital financeiro e atravancar o desenvolvimento econômico com resultados sociais benéficos ao povo.

O capital financeiro não tem compromisso com o desenvolvimento da economia, muito menos com o bem-estar social, seu vetor é a sua rentabilidade a qualquer custo.

Com essa divisão entre política monetária e política econômica, o governo ficou com o motor de partida e o BC com as marchas. E como não passa da primeira marcha, o carro vai esquentar e parar, ou seja: o futuro é a recessão, em permanecendo esse divórcio.

A tarefa de gerenciar um sistema irracional, como é o capitalista, não é simples, é complexa e depende de muitos fatores, particularmente quando o país não é ainda desenvolvido com sustentabilidade.

A convergência dos atores institucionais e econômicos é o desafio para um planejamento que evite por um lado a recessão e por outro a inflação desenfreada.  

E tudo é minado, subvertido e piora, quando “esse cidadão” que está na presidência do BC é adepto do bolsonarismo, compadre ideológico do genocida golpista, que, econômica, social e politicamente destroçou o país.

A trinca, Bolsonaro, Guedes e “esse cidadão”, é responsável pelos 33 milhões de brasileiros na miséria, pelo desemprego de mais de 12 milhões, por metade da população na insegurança alimentar, pelas mortes culposas de 400 mil pela covid-19 e pelo genocídio doloso dos yanomamis.

A independência do BC significa a dependência ao mercado financeiro!

Essa briga não é só do Lula, é nossa, pois os prejuízos são de toda a sociedade.

Movimentos sociais, sindicais, partidários, devem assumir essa bandeira. E fazer como o movimento nos EUA, Occupy Wall Street, que foi um protesto contra a desigualdade econômico-social, a cobiça, a corrupção no mercado e a sua desregulamentação, cujo resultado não foi o desejado, mas produziu algumas regras na selva dominada pelo capital financeiro.

No Brasil, o neoliberalismo fomentou três balelas, a do estado mínimo, a do Banco Central independente e a do teto de gastos. 

Estado mínimo significa o domínio máximo do mercado, quanto menor, maior será o comando do mercado. 

O estado, como mediador dos interesses das classes, tem que ser o máximo necessário para gerar o bem-estar da sociedade, razão pétrea estabelecida pela Carta Magna. 

Banco Central independente do governo, dos poderes e instituições democráticas, da sociedade organizada, em última análise, do sufrágio universal, direto ou indireto, é como uma célula estranha ao organismo democrático-social, e pode gerar doenças de raquitismo ao crescimento econômico com justiça social. 

O teto de gastos não pode funcionar sem o teto de juros, sob pena de impedir o cumprimento do artigo terceiro do ordenamento constitucional. 

Se o BC não entrar em harmonia com o governo Lula, as promessas eleitorais ficarão muito difíceis de serem realizadas.

É o que desejam os golpistas!  

Francisco Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

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