Danos causados pelo cigarro eletrônico dominam sessão pela prevenção do câncer
A estimativa é de que para a cada R$ 1 gasto na prevenção se economize R$ 4 no tratamento da doença
Sessão temática no Senado debateu políticas públicas de combate ao câncer de pulmão
Diante do atual desafio do aumento do consumo e comercialização clandestina de cigarros eletrônicos no país, parlamentares e especialistas que participaram nesta terça-feira (13) de sessão temática no Senado para debater políticas públicas com relação ao câncer de pulmão defenderam ações preventivas de forte impacto. A estimativa é de que para a cada R$ 1 gasto na prevenção se economize R$ 4 no tratamento da doença.
Primeiro signatário do pedido de sessão temática e presidente da Frente Parlamentar da Medicina do Congresso Nacional, o senador Dr. Hiran (PP-RR), que presidiu a reunião, disse que apesar de ser contrário ao fumo, é favorável à aprovação do PL 5.008/2023, que regulamenta a produção, comercialização, fiscalização e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil.
— A maioria das pessoas do país não sabe nem que é proibido. É proibido importar, é proibido vender, é proibido tudo. E todo mundo usa. Quando você vai a uma festa de jovem, os jovens todos estão usando essas coisas coloridinhas, flavorizadas, e todo mundo usando. Ninguém sabe a concentração de nicotina, que é extremamente nociva, é extremamente viciante. Ninguém sabe o que se está produzindo do fruto do aquecimento dessa nicotina. (...) Eu acho que a gente precisa realmente conscientizar as pessoas de que isso é muito nocivo à saúde, fazer política pública de conscientização, como nós fizemos no tabagismo — disse o senador.
O senador mencionou as estimativas para o triênio 2023-2025, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), segundo as quais cerca de 32 mil casos de câncer de pulmão devem ser diagnosticados por ano no Brasil — o que coloca a doença como a quinta mais incidente entre todos os tipos de tumores malignos.
— Esse tema que hoje nos reúne, infelizmente, não se limita a estatísticas frias. Por trás dos números, existem histórias de vida, famílias que enfrentam a doença com coragem e esperança depositada em cada avanço da ciência. É por elas e para que outras tantas não precisem travar a mesma batalha que dedicamos esse espaço à construção de soluções mais eficazes. O câncer de pulmão é o segundo tipo mais comum no mundo, com 2,2 milhões de casos novos por ano. Isso corresponde a mais de 11% de todos os casos de câncer — expôs o Dr. Hiran. O senador também destacou o Primeiro Congresso de Câncer de Pulmão, que será realizado nos dias 14 e 15 de agosto em Brasília.
Danos irreversíveis
Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Margareth Maria Pretti Dalcolmo destacou a aliança para o combate ao câncer do pulmão, um esforço coletivo de sociedades médicas aliadas ao poder público.
— Não é possível que num país como o Brasil ainda tenhamos 28 mil pessoas que morrem de câncer do pulmão, quando essa é uma doença previamente detectável. [...] É preciso que a detecção precoce seja acompanhada de um sistema de biopsia e essa resolubilidade só se dará se isso tudo for bem concatenado. Precisamos pensar grande, juntarmos porque em rede tudo se faz melhor — disse Margareth Dalcolmo.
A especialista relatou que recebe em seu consultório adolescentes com 16 anos com pulmões radiografados similares a uma pessoa de 90 anos, com danos irreversíveis no órgãos causados pelo cigarro eletrônico, os "vapes".
— Estamos aqui como sociedade médica de especialistas para não permitir que o câncer de pulmão venha a sobreviver em pessoas com até 30 anos de idade.
A presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira, lembrou que qualquer pessoa pode ser acometida pelo câncer de pulmão, não só os fumantes. Ela diz que já vê jovens saindo das escolas com os cigarros eletrônicos em mãos.
— Não podemos continuar perdendo vidas para o câncer de pulmão como estamos perdendo. [...] Hoje o câncer já atinge mais de 600 cidades como primeira causa mortis — disse Marlene Oliveira.
Diagnóstico
Depois de fumar por mais de 20 anos, mas há quase 30 anos livre do vício, o senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que “as consequências ficam”. O senador destacou que a Casa debate atualmente o PL 5.008/2023, que regulamenta a produção, comercialização, fiscalização e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil.
— A gente precisa convencer os jovens do mal que isso aí faz [cigarro eletrônico]. Que a gente possa de fato trabalhar a prevenção e isso não se faz de qualquer forma, tem que ser feito na educação — afirmou Izalci.
A senadora Rosana Martinelli (PL-MT) pediu um olhar para todos os pacientes quanto à precocidade da detecção da doença. Ela compartilhou ter perdido sua mãe pela demora no diagnóstico do câncer.
— O que nós precisamos é que o governo implemente as políticas públicas para que cheguem lá na ponta — afirmou Rosana.
Atenção especializada
Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, responsável pelas políticas de alta e média complexidade, pelo fortalecimento de diagnóstico e tratamento do câncer e por estratégias como o Programa Nacional de Redução de Filas, destacou que todos os países enfrentam o desafio de alinhar as políticas de prevenção e tratamento. Para ele, é preciso aprimorar, principalmente, a capacidade de organização do sistema público de saúde para o câncer.
— Na atenção ao câncer temos grandes desafios. O que trazemos como diretriz é o fortalecimento da atenção especializada. [...] Quando olhamos para o câncer, o de pulmão é nos homens o terceiro mais incidente e nas mulheres, o quarto — disse o secretário.
Quando se olha a tendência de mortalidade por regiões, no Sul e Sudeste houve redução nas ocorrências, enquanto no Norte e Nordeste ainda não.
— Dentre as intervenções que devem ser pensadas, são fundamentais as ações de prevenção. [...] O desafio do cigarro eletrônico nos coloca para repensar as ações que devemos dirigir a nossa juventude — complementou Massuda.
Custo do câncer
Coordenadora de Gestão em Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Vanessa Boarati apresentou estudo que mostrou o custo econômico do câncer de pulmão.
Segundo a especialista, 80% dos custos de câncer do pulmão são indiretos, causados pela alta perda de produtividade pela morte prematura e alto absenteísmo, ou seja, falta ao trabalho. Pelo menos um terço dos que morrem estão em idade ativa e 57% das vítimas são homens.
O perfil da internação revelou que a porcentagem de tempo em UTI é maior do que em outros canceres e registra-se também mais dias de internação. A mortalidade do câncer de pulmão, segundo Vanessa, supera os canceres de mama, colorretal e próstata.
Negligência
O presidente de honra da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Carlos Gil Ferreira, afirmou que câncer de pulmão é uma doença negligenciada, mas que ações importantes estão sendo obtidas, como a atuação legislativa federal e do Poder Executivo, que agora tem secretaria específica no Ministério da Saúde para enfrentamento à doença.
Diretor-executivo e de Processos Clínicos do Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor), Raphael Haikel Júnior disse que a prevenção é simples e ao mesmo tempo complicada.
— Precisamos envolver vários atores nessa grande luta de prevenção. (...) Saber como agir para não gastar recursos da União de forma errônea.
Política de prevenção
A deputada Federal Silvia Cristina (PL-RO), que teve câncer em 2006, lembrou que a campanha Agosto Branco é destinada ao debate e conscientização do câncer de pulmão. Ela destacou a aprovação pelas duas Casas Parlamentares, em 2023, da Lei 14.758, que instituiu a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (no âmbito do Sistema Único de Saúde) e o Programa Nacional de Navegação da Pessoa com Diagnóstico de Câncer. Silvia cobrou a implementação da lei.
— O câncer tem cura, e através das ações que forem discutidas aqui hoje, que não podem ficar em só falácias — ouvir e daqui a pouco virar as costas e daqui a seis meses trazer um outro debate —, isso é de fato a gente trazer solução. E a solução é salvar vidas de milhares de pessoas que estão esperando para que todos nós possamos nos levantar e dar solução para elas — disse a deputada.
Médico, o deputado Allan Garcês (PP-MA) afirmou que se gasta muito no país em saúde pública por falta de prevenção.
— Então a gente tem aí um desafio a enfrentar, um desafio de conscientizar as novas gerações. E como fazer isso? Através de políticas públicas voltadas para a prevenção. Mas também, não só nas políticas públicas de saúde, mas também na legislação.
Também participaram da sessão temática a deputada federal Flávia Morais (PDT-GO), o deputado federal Weliton Prado (Solidariedade-MG), o vice-presidente da Região Centro-Oeste da Associação Médica Brasileira (AMB), Etelvino de Souza Trindade, o vice-presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Rubens Chojniak e o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Clóvis Klock.
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