Debatedores apontam possibilidade de terceira dose de vacina em idosos e imunossuprimidos

Apesar de alguns países terem realizado estudos e autorizarem a vacinação heterogênea, no Brasil, segundo Rosana Melo, ainda não há essa previsão

Agência Senado/Foto: Reprodução/Tv Senado
Publicada em 16 de agosto de 2021 às 14:52
Debatedores apontam possibilidade de terceira dose de vacina em idosos e imunossuprimidos

A Anvisa estuda a aplicação da terceira dose em públicos mais vulneráveis, como os mais idosos e os imunocomprometidos

A preocupação sobre a necessidade de aplicação de uma terceira dose das vacinas contra a covid-19 foi levantada por senadores durante audiência pública, nesta segunda-feira (16), da comissão temporária que discute a pandemia (CTCOVID-19). Pesquisadores e a representante do Ministério da Saúde chamaram a atenção para a necessidade de observar o avanço e os efeitos das variantes do vírus no país, como a delta, para que, com base nos estudos, haja um planejamento com definição de público alvo para a revacinação, como os idosos e as pessoas com comorbidades. 

O senador Esperidião Amin (PP-SC) defendeu que, caso a comunidade científica determine a terceira dose do imunizante, o Ministério da Saúde reestruture a coordenação do novo ciclo de vacinação para conduzir de forma uniforme o processo.

— Qual critério para terceira dose? Qual fundamentação? Isso tem que entrar no Plano Nacional de Imunização. Até para não desconstruir o que nós construímos que foi o Plano Nacional de Imunização. Desejo que consigamos refazer a coordenação deste novo ciclo de vacinação. Com menos vírus político, com menos vírus de ego, vírus esse que esteve presente desde o anúncio da vacina.

Para a diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze de Sousa Freitas, o país precisa estar atento aos estudos internacionais, analisar os dados locais e abrir as discussões sobre a revacinação de forma “ponderada” para públicos específicos.

— A decisão de uma terceira dose não deveria ser generalizada. Mas sim a partir dos dados epidemiológicos, a partir das vacinas e levando em consideração os públicos mais vulneráveis, como os mais idosos e os imunocomprometidos. Essa decisão tem que ser sempre ponderada. Os líderes mundiais precisam levar em consideração a ampliação mundial e discutir a terceira dose para os grupos mais necessitados.

Ao ressaltar que o Brasil chegou a 200 milhões de vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde até este último fim de semana, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo, esclareceu que a possibilidade de revacinação está sendo avaliada pela pasta. Em resposta a questionamentos de internautas enviados pelo Portal e-Cidadania, Rosana destacou que todos os imunizantes contra a covid-19 aprovados e aplicados no Brasil são eficazes e, em regra geral, previnem a infecção e a mortalidade pelo vírus. No entanto, ela salientou que é preciso sempre avaliar o avanço da doença, suas variantes e a realidade específica do país para remodelar a operacionalização do Plano Nacional de Imunização.

— São experiências desse tipo [ocorrência de infecção e morte em vacinados] que nos darão subsídio para avaliar o tempo dessa terceira dose. Será que utilizaremos o mesmo intervalo se formos usar o mesmo imunizante? Será que utilizaremos um tempo maior ou será que teremos dose de reforço? Então tudo isso, eu espero que a gente consiga algumas respostas e é bem verdade que teremos essas respostas e possamos até modificá-las mais adiante.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) manifestou preocupação com a lentidão no processo de aquisição dos imunizantes pelo governo federal para a aplicação do atual plano contra a covid-19. Ela receia que, com a definição da aplicação da terceira dose, o ministério não tenha capacidade para agilizar essa nova compra.

— Mesmo que o Ministério da Saúde diga que não está faltando vacina, mas está.

Zenaide também defendeu que os estudos atentem para a necessidade de revacinação nos profissionais de saúde.

— Se for cientificamente comprovada a necessidade de uma terceira dose também acho que aplicar nos profissionais de saúde é de uma importância fundamental.

Urgência

Na avaliação da pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca ENSP–Fiocruz, casos de mortes de vacinados idosos ou que possuem alguma comorbidade começam a ser relatados no país, o que exige urgência na decisão de se aplicar a terceira dose. 

Questionada pelo senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) sobre a morte do ator Tarcísio Meira em decorrência da covid, na quinta-feira (12), Margareth citou o caso como exemplo que reforça a necessidade de revacinação. O ator foi imunizado com as duas doses de vacina e cumpria as recomendações sanitárias.

— A morte de Tarcísio Meira reforça mais ainda o pleito que nós aqui trouxemos de absoluta necessidade, e eu diria mesmo, independente de resultado de estudos que ainda podem tomar muito tempo. Nós não precisamos acumular mais mortes sabendo que a imunodeficiência pode sim, a partir de uma determinada plataforma, no caso da Coronavac, exigir de nós uma decisão firme, corajosa de vacinar e proteger essa faixa etária.

Vacinação heterogênea

Amin ainda questionou a secretária da Secovid sobre a autonomia de estados para comandarem vacinação, em duas doses, com imunizantes de laboratórios diferentes. Segundo ele, alguns estados estariam autorizando esse procedimento. Rosana esclareceu que o Ministério da Saúde, até o momento, só autorizou a vacinação heterogênea em grávidas e que, os demais públicos, devem seguir as definições que estão no Plano Nacional de Imunização.

— A intercambialidade foi liberada para as gestantes. Lembrem-se que teve todo aquele efeito adverso, que nós suspendemos temporariamente, avaliamos as evidências científicas e liberamos sim a intercambialidade para as gestantes, aquelas que tomaram AstraZeneca poderiam tomar a Coronavac ou a Pfizer. Principalmente aquelas que tomaram no início da gravidez, então o risco benefício era mais evidente se elas fizessem essa intercambialidade.

Apesar de alguns países terem realizado estudos e autorizarem a vacinação heterogênea, no Brasil, segundo Rosana Melo, ainda não há essa previsão.

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