Depoimento de Tony Garcia representa o enterro moral da breve carreira parlamentar de Moro
O testemunho surge em momento oportuno, em virtude do inquérito do Conselho Nacional de Justiça, que visa investigar os excessos e ilegalidades da Lava Jato
(Foto: Divulgação)
Por Miguel do Rosário, no Cafezinho – O empresário Tony Garcia deu uma entrevista à TV 247, nesta sexta 2 de junho, que significa o enterro moral da breve carreira parlamentar de Sergio Moro.
Depois desse depoimento, prestado com uma incrível carga de emoção, coragem, franqueza, o ex-ministro de Bolsonaro e ex-juiz da 13a Vara Federal de Curitiba, pode até sobreviver politicamente, ancorado no papel de liderança de extrema-direita, mas é um fantasma moral, um dos mais repugnantes e sórdidos vilões da história do nosso judiciário.
Se ainda houver algum senso de decência nas altas instâncias judiciais do país, Sergio Moro será cassado, e rápido.
A entrevista de Garcia oferece um retrato inquietante, sinistro, maligno, de Sergio Moro, bem mais do que as percepções anteriores poderiam sugerir.
Segundo Garcia, antes de se tornar a figura central da “Operação Lava Jato”, o ex-magistrado da 13ª Vara de Curitiba exercia o comando de uma organização criminosa especializada em tortura psicológica, coação de réus, manipulação de provas e testemunhos, e chantagem a instâncias judiciais superiores.
Garcia não é um informante qualquer. Oriundo de uma família rica do estado, ele frequentava círculos de poder desde os vinte anos de idade, como revela, referindo-se a sua convivência com políticos e empresários de alto escalão.
O empresário declara que Moro o converteu, mediante ameaças de detenção e multas pesadas, um agente a serviço de seus intentos mais abjetos.
Dez anos antes do início da Lava Jato, Moro já tinha descoberto a forma de controlar as instâncias judiciais superiores, encarregadas da revisão e eventual anulação de suas decisões.
A tática utilizada por Moro pode ser resumida em uma palavra: chantagem.
Com o auxílio de Tony Garcia, o juiz obteve informações comprometedoras sobre desembargadores do TRF4 e do STJ. Ao invés de denunciar tais indivíduos ao Conselho Nacional de Justiça, utilizou os dados coletados para pressioná-los a agir em conformidade com seus interesses.
“Eu sou o criminoso aqui?”, indaga o empresário várias vezes durante a entrevista ao canal 247, respondendo a agressões recentes feitas por Moro, após entrevista de Garcia a um órgão de imprensa. Ele reitera que, embora ciente do universo sombrio das altas esferas da política, nada se compara às práticas repugnantes, violentas, imundas de Sergio Moro e procuradores de Curitiba.
Garcia relata que a conivência entre Moro e os procuradores da Lava Jato iniciou-se nos anos de 2000, ou mesmo antes. Membros do Poder Judiciário e do Ministério Público se uniram em Curitiba para tornar suas chantagens mais eficazes.
Segundo Garcia, em duas ocasiões ele foi “recrutado” por Sergio Moro. Nesse aspecto, sua história se assemelha um pouco à de Alberto Yousseff, que também se tornou, duas ou mais vezes, um “agente” do juiz da Lava Jato.
O relato de Garcia apresenta um lado humano profundamente angustiante, envolvendo tortura psicológica e uma perseguição covarde, que durou décadas. O empresário admite, com emoção, que durante mais de vinte anos foi um “prisioneiro” de Sergio Moro.
Garcia era submetido a detenções indeterminadas, por semanas ou meses, além de ser alvo de multas elevadas, que ameaçavam o patrimônio de sua família.
O empresário narra que, uma década antes da Lava Jato, seus testemunhos a Moro eram continuamente manipulados pelo próprio juiz. Moro só aceitava revelações que se ajustassem à versão dos fatos que interessava à acusação, um procedimento que foi replicado na operação iniciada em 2014.
“Quando eu dizia algo que não estava de acordo com o que ele queria ouvir, conta Garcia, ele desligava o gravador, apagava o trecho e sugería que eu conversasse um pouco com meus advogados para reformular a história.”
Moro continuamente ameaçava Garcia com novos castigos, caso não o obedecesse, e o coagia a não revelar nada para seus próprios advogados.
Garcia logo compreendeu o jogo e, sentindo-se extremamente vulnerável, decidiu se tornar parte da trama nefasta de Moro.
Ele decidiu agora trazer à tona todas essas revelações devido às reviravoltas recentes em Curitiba, com a remoção do juiz Eduardo Appio e o retorno de Gabriela Hardt, “pau mandado de Moro”, nas suas palavras, à 13ª Vara.
O empresário explica que, em 2021, ele decidiu prestar um depoimento completo e honesto à Hardt, relatando tudo o que sabia sobre as irregularidades e abusos de Moro e seus comparsas no Ministério Público. Entretanto, a juíza não apenas arquivou suas denúncias, como também demonstrou ser aliada daqueles que Garcia tinha denunciado, decidindo romper o “acordo” feito, anos antes, entre Garcia e a justiça.
Garcia percebeu que, mesmo após vinte anos de submissão aos abusos de Moro, continuaria sendo prisioneiro, e que sua única chance de se emancipar seria expor tudo à imprensa.
“O Brasil precisa saber o que aconteceu”, Garcia reiterou durante a entrevista, acrescentando que esses fatos permitiriam revisar a história recente do Brasil.
Garcia admite que os reveses da Lava Jato, iniciados pelas revelações de conversas no Telegram entre procuradores, seguido pela liberdade de Lula, e consumados pela vitória eleitoral de 2022, lhe deram coragem para se libertar do medo.
Uma das histórias perturbadoras relatadas por Garcia diz respeito a uma “festa da cueca”, que contou com a participação de desembargadores e profissionais do sexo, em uma suíte presidencial de um renomado hotel em Curitiba. Um amigo advogado de Garcia teria gravado a presença das autoridades nessa festa. Moro soube dessa festa, através de um de seus “agentes”, e com a ajuda de Garcia, conseguiu localizar os vídeos no apartamento do advogado em São Paulo. Garcia relata que Moro confirmou ter encontrado o material. No entanto, os vídeos nunca foram anexados a qualquer processo, e Garcia suspeita que podem ter sido utilizados para chantagear desembargadores do TRF4. ”
Outra revelação surpreendente de Garcia, em seu depoimento ao 247, trata de uma entrevista à Veja feita em 2006, cujo conteúdo foi combinado e forjado da maneira mais ignóbil. O repórter da Veja o abordou, lembra Garcia, com ameaças veladas e menções às autoridades de Curitiba. Garcia então liga para Sergio Moro, que o instrui a seguir as orientações do jornalista, respondendo o que ele precisava ouvir. Eram tempos de mensalão, e Garcia inventou um monte de histórias cabeludas contra José Dirceu, Lula e o Partido dos Trabalhadores. Essa entrevista até hoje consta no Wikipédia como “prova” do escândalo do mensalão.
O testemunho surge em um momento oportuno, em virtude da recente instauração de um inquérito pelo Conselho Nacional de Justiça, que visa investigar os excessos e ilegalidades da Lava Jato de Curitiba.
Garcia também trouxe detalhes obscenos de negociatas envolvendo a articulação do impeachment de Dilma Rousseff. O empresário pediu desculpas publicamente à ex-presidenta Dilma Rousseff por ter participado dessas tramas.
A entrevista pode ser vista a partir do minuto 3:12:00. O vídeo abaixo já está no ponto:
Miguel do Rosário
Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje
Dallagnol foi a primeira vítima de Sergio Moro
O ex-procurador e ex-deputado deve fazer o que ensinava aos réus da Lava-Jato: aceitar que Moro era seu chefe e dizer o que ele fazia em Curitiba
O discurso do espantalho
Tal discurso sinaliza que embate PT vs. Bolsonaro está longe de terminar, o que não vai ajudar a pacificar o país e colocar comida na mesa dos brasileiros
Comentários
Depoimento desse cara é igual nota de 3 reais, se existiu realmente tudo que ele falou porque demorou pra denunciar, cade os chantageados juizes e desembargadores que estão quietos, ninguem se manifestou nem antes e nem agora
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