Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Se houvesse apenas uma pessoa de determinada religião, ou sem nenhuma religião, em todo o mundo, seria dever de todos os outros habitantes do planeta, crentes ou não, respeitarem e defenderem a opção desse único adepto

Robinson Grangeiro Monteiro
Publicada em 19 de janeiro de 2023 às 12:21
Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Embora a sociedade brasileira tenha sido outrora conhecida mundialmente pela tolerância religiosa, quando comparada a outras nações deflagradas por conflitos religiosos há várias décadas, nos últimos anos os crimes contra a crença e a liberdade religiosa têm aumentado. Por isso, o tema precisa de amplo debate para produzir consciência coletiva de que não há liberdade em qualquer outra área da vida, se não houver liberdade de se crer na divindade que bem se quiser, assim como de simplesmente não crer em nada.

Para garantir que todos os cidadãos possam manifestar livremente suas crenças, assegurando a existência de diferentes credos, o poder público, em suas várias instâncias, deve agir em diversas frentes para que todos tenham essa prerrogativa respeitada, ainda mais depois que foi instituída no Brasil o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro), para salientar o que diz a nossa Carta Magna em seu artigo 5º:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Com dimensões continentais, o Brasil é formado da mistura de povos, culturas, etnias e crenças, entre tantos outros elementos que constituem a identidade do povo brasileiro, moldando-o como um grande caldeirão multicolorido, ou como um diamante multifacetado, cujo brilho e beleza de cada um de seus lados e ângulos é único e inigualável. Para se ter ideia da força do fenômeno religioso e das práticas religiosas que ainda existem no país, cerca de 88,3% da população brasileira afirma possuir alguma religião, conforme pesquisa de 2020 do Instituto Datafolha. Por outro lado, o segmento populacional de ateus, agnósticos e sem religião é o que mais tem crescido nos últimos anos no Brasil, apontando para a tendência à secularização já presenciados na Europa e nos EUA, outrora majoritariamente religiosos.

Independentemente das convicções religiosas individuais e assegurado o direito de praticar a sua religiosidade e desenvolver ações visando a conversão de mais adeptos à sua própria crença, há pilares comuns a todos os credos que impõem deveres éticos compartilhados com todos, tais como o respeito e a empatia, possíveis apenas pelo conhecimento do que se crê e daquilo que os outros creem. Esta é inclusive a grande razão educacional para o ensino religioso nas escolas: o de produzir consciência da necessidade de respeito à religião, qualquer que seja, ou até mesmo à ausência da religião, por parte de outros cidadãos.

Neste sentido, vários mestres religiosos ensinam o primado do amor ao próximo, e para ficar naquele credo que é o fundamento histórico da parcela maior da população brasileira, que é o cristianismo, as palavras de Jesus Cristo ensinam a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, aplicando-se à prática religiosa a regra áurea da convivência em respeito e empatia: “tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-o vós, primeiro”. Ou seja, quer ter sua crença, culto, ritual e direito à proclamação de sua fé devidamente respeitadas? Então, respeite o mesmo direito daqueles que creem diferentemente de você e até daqueles que preferem não crer em divindade alguma.

Tal respeito se expressa em atos concretos de se evitar a zombaria, as notícias falsas, o incitamento ao ódio religioso e o combate à discriminação de qualquer ordem, por razão de fé ou associada à prática religiosa, algo que sutilmente tem substituído fogueiras e pedras outrora usados contra adeptos de outros credos, por fanáticos que, supostamente em nome de Deus, negam o amor como princípio básico do próprio Criador.

Além disso, resguardadas as agendas e objetivos de expansão de cada denominação religiosa, por meio da propaganda e proclamação de suas crenças, princípios e valores, há muitas causas comuns a todos, que exigem uma natural e bem-vinda co-beligerância, por propugnarem valores transcendentes e comuns a todos, tais como o amor ao próximo carente e excluído para a promoção do desenvolvimento social. Nesse sentido, preces e mãos que se voltam para divindades diferentes em seus cultos particulares, podem se unir solidariamente em determinados momentos da história, para ações de cidadania e combates por causas socioambientais comuns, sem comprometer as convicções e fidelidades particulares à religião a que pertencem.

Afinal de contas, cada ser humano, crente ou não, é imagem do Criador, que a todos, e a cada um, deu vida para justamente se aprender a conviver com outros semelhantes, ainda que desiguais em suas predileções religiosas e em tantos outros aspectos da existência.

Essa consciência deve ser nutrida e multiplicada nas instituições sociais, desde a mais básica, como a família, até aquelas cuja capilaridade possibilita um grande poder multiplicador e transformador, como escolas e universidades, associações e sindicatos, partidos políticos e, obviamente, igrejas particulares e denominações religiosas.

Neste diapasão, em todas as unidades de educação e saúde, a Chancelaria do Mackenzie é responsável por manter um ambiente de respeito na comunidade mackenzista, baseado nos princípios e valores cristãos reformados, inclusive aqueles que fundamentam a liberdade de crença e de religião, tão bem defendidos por presbiterianos desde a Reforma Protestante do Século XVI e que se constituem na base das democracias modernas em todo o mundo.

 

Sobre o Instituto Presbiteriano Mackenzie  

É uma instituição educacional privada, confessional, presbiteriana e sem fins lucrativos. Desde sua fundação em 1870, por missionários presbiterianos, a Instituição é agente de uma série de inovações que tem influenciado o cenário da educação no país, o que também mais recentemente tem sido expandido para a área de saúde. A missão do Mackenzie é “educar e cuidar do ser humano, criado à imagem de Deus, para o exercício pleno da cidadania, em ambiente de fé cristã reformada”.

Ao longo de sua existência, implantou escolas para educação básica e cursos superiores, alguns pioneiros em suas áreas de conhecimento e atualmente dentre os mais bem avaliados no país, tornando-se reconhecido pela tradição, pioneirismo e inovação na educação, de acordo com a visão de “ser reconhecida pela sociedade como instituição confessional presbiteriana e filantrópica, que se dedica às ciências divinas e humanas, comprometida com a responsabilidade socioambiental, em busca contínua da excelência acadêmica, do cuidado e da gestão”,

O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora da associada vitalícia, que é a Igreja Presbiteriana do Brasil, e responsável pela governança e gestão administrativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie nos campi São Paulo, Alphaville e Campinas, das Faculdades Presbiterianas Mackenzie em três cidades do País: Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ), bem como das unidades dos Colégios Presbiterianos Mackenzie de educação básica em São Paulo, Tamboré (em Barueri - SP), Brasília (DF), Palmas (TO) e Castro (PR), além do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie Paraná (Curitiba), que presta mais de 90% de seu atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e integra o campo de estágios da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), além do Hospital Evangélico Dr. e Sra. Goldsby King (Dourados, MS) e de Escola de Enfermagem na mesma cidade.

Como instituição filantrópica, desenvolve educação para jovens e adultos (EJA), projetos sociais em todo o Brasil (Mackenzie Solidário) e tem um dos maiores programas de bolsas de estudos filantrópicos do país.

Robinson Grangeiro Monteiro 

Chanceler do Instituto Presbiteriano Mackenzie, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Ministério pelo Reformed Theological Seminary (USA), mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba.

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