Drama de rapaz preso em Cerejeiras é só uma amostra da tragédia psiquiátrica no Cone Sul

Só em Vilhena, segundo dados do CAPs, existem mais de 3 mil pessoas que precisam de tratamento.

Folha do Sul 
Publicada em 01 de maio de 2019 às 12:12
Drama de rapaz preso em Cerejeiras é só uma amostra da tragédia psiquiátrica no Cone Sul

Na semana passada, o FOLHA DO SUL ON LINE destacou a dramática história de um morador da cidade de Cerejeiras, que chegou a ser detido pela Polícia, suspeito de planejar um ataque para massacrar crianças e professoras de uma creche. Lembre aqui

Francisco Jorge da Silva, o suspeito, tem 47 anos e um histórico de problemas mentais. Nos momentos de equilíbrio, é um talentoso cantor gospel, que costuma se apresentar em templos evangélicos locais (assista vídeo abaixo); em surto, quando deixa de tomar seus medicamentos, é capaz de ações esquisitas e até violentas.

Assustados com a suposta ameaça, moradores da pequena cidade compartilharam a imagem do terrorista em potencial e registraram boletins na polícia, cobrando providências contra “o doido”.

Ao agir, o delegado responsável pelo caso deu uma lição de sobriedade em meio à histeria: interrogou o acusado e, sem base legal para mantê-lo na cadeia, decidiu liberá-lo. Teve o bom senso de esclarecer que, muito acima da sua vontade pessoal de evitar um eventual ataque, estava a lei, que não autorizava o encarceramento naquele momento.

Dias depois, Jorge teve a prisão decretada pela justiça para garantia da ordem pública. Ficará na cadeia, por enquanto, ao invés de estar numa clínica. 

Mais do que revelar a situação de risco para crianças, educadoras e para o próprio Jorge, o episódio expõe um problema grave e crônico, mesmo em localidades minúsculas como Cerejeiras: a falta de opções de tratamentos para pessoas com algum tipo de distúrbio psiquiátrico, cada vez mais numerosas para onde quer que se olhe.

Só em Vilhena, segundo dados do CAPs, existem mais de 3 mil pessoas que, em maior ou menor grau, dependem de atendimento e de remédios para manter um mínimo de sanidade mental. E a fila só aumenta, na mesma proporção em que migram os recursos para garantir a tal “saúde universal”, prevista na Constituição.

Assim como o cerejeirense, que sem querer teve seu drama exposto, existem outros milhares de pacientes espalhados pelo Cone Sul, com o pavio ligado, prestes a explodir. E alguns botam mesmo fogo na pólvora, seja dando cabo de suas próprias vidas ou ameaçando a existência alheia, como tantas vezes este jornal já noticiou.

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