Em 1981 o Estado construído a muitas mãos (II)

Atores que passam longe da dita História

Lúcio Albuquerque
Publicada em 26 de dezembro de 2018 às 17:37

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No artigo anterior “Uma história que deveria ser, mas não é honrada”, enfoquei minha estranheza que fatos e personagens da nossa História estejam sendo colocados de lado, fatos e pessoas que deram enormes contribuições a Rondônia, e que são ignorados por quem deve motivar seu conhecimento.

Querem um exemplo? O fato histórico que pode rivalizar com a própria criação do Estado pouco dele se fala e muita gente que deveria conhecê-lo, o “Tratado de permuta de Territórios e outras compensações”, com certeza têm dificuldades em relacionar com o título comum que aquele documento é conhecido entre nós.

Há alguns anos participei de reunião em que se discutia a proposta da Data Cultural de Rondônia. Eu estava lá na condição de convidado, mas acabei sugerindo o dia 17 de novembro. Para minha surpresa, até porque estavam presentes pessoas que gostam de denotar conhecimento da nossa História, nenhum dos quase 20 participantes identificou a data. Aliás, leitor, você já identificou? Parabéns!.

A data é do que chamamos de “Tratado de Petrópolis”, de 1903, aquele com a Bolívia que oficializou as terras acrIanas para o Brasil e como uma das compensações foi construída a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré rivalizar com o 22 de dezembro? Simples: caso não houvesse aquele fato, correríamos o risco de estarmos na condição de muitas cidades de beira de rio amazônico.

É comum encontrarmos citações – justas, mais que justas! – sobre os seringueiros nas duas etapas da extração da borracha, dos que vieram trabalhar para construir a Madeira-Mamoré, a odisseia daqueles que vieram e fizeram seu trabalho, ainda que muitos pagando com suas vidas o denodo do desafio da selva, da malária, da ganância dos patrões.

Outro fato? A determinação do presidente JK para construir a BR (hoje 364) que possibilitou o desenvolvimento regional, a ocupação do solo, a mudança do perfil econômico deixando de sermos extrativistas vegetais para abrir espaço à potência que Rondônia hoje representa na área do agronegócio.

Um Estado tão jovem como é Rondônia não poderia apagar de sua memória histórica esses fatos, atores também e muito importantes do nível que alcançamos em 1981 e a partir daí.

Mas dentre os fatos que levaram Rondônia a alcançar o status atual há um que, talvez por ter acontecido durante o período de 1964, é praticamente ignorado pelos que se atrevem à historiografia local.

Seu título é Incra, que conseguiu tornar possível a missão que foi dada ao próprio e realizar o que é chamado de “a única experiência de reforma agrária que deu certo neste país”.

Em 2011 quando presidi a Academia de Letras de Rondônia – ACLER, realizamos atividades, com o auditório do Teatro Banzeiros lotado, sobre Rondon. Mas ali não se tratou da linha telegráfica, da qual muito falam. A Acler foi mais adiante, tratando de duas temáticas diferentes, a importância do Positivismo na vida do patrono do nosso Estado. Outra foi sobre a missão científica que acompanhou Rondon. Fatos que, apesar da relevância, praticamente passam em branco quando se mergulha na História do Patrono das Comunicações.

Um Estado ainda buscando sue “norte”, um povo ainda em formação, não pode continuar convivendo com essa falta de debate sobre sua memória, o que fica pior, como disse recentemente um  historiador, porque sua capital “não sabe quando foi criada nem definiu ai da a razão de seu nome, Porto Velho”.

São desafios que precisam ser encarados por historiadores, pesquisadores, pelas entidades voltadas à cultura e, mais, pela própria Universidade Federal de Rondônia. Para isso será preciso quebrar tabus e colocar a História de Rondônia na pauta, o que será uma mudança comportamental que, sem dúvida, precisa acontecer.

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