Em Porto Velho uma pessoa comete suicídio por semana
Profissionais ensinam como identificar e acolher às vítimas do mal do século
Mudança de humor e comportamento, como reclusão, alcoolismo e outras drogas, alteração de sono, alimentação e libido: estes são sinais que podem identificar a depressão, doença considerada o mal do século.
O problema pode acontecer após traumas físicos e psicológicos, ou até mesmo pela condição social, como a falta de emprego e a fragilidade financeira, e comorbidades, como ter outra doença que gerou a depressão.
Em casos mais graves, a doença pode levar o paciente ao suicídio. Segundo o psicólogo Edlei Timbó Passos, o principal olhar para a identificação e atenção à vítima da doença, deve se ater em não destinar alguém para cuidar que possa ser a origem do problema na vida do paciente. “Por exemplo, a maior parte dos suicidas tem um históricos de abuso sexual, e geralmente o abuso foi causado por alguém próximo. Esses casos muitas vezes não são notificados, denunciados, e a pressão para a pessoas depressiva é muito forte”, explica.
A avaliação familiar sobre o comportamento dos membros é fundamental. “Para quem tem filhos adolescentes, observar que moramos em uma região quente, e se um adolescente só veste roupas de mangas compridas, calças, tá sempre escondendo o corpo, ele pode estar se mutilando. Eles vão fazer isso em regiões como o braço, a coxa, a virilha, partes que podem ser escondidas. Já os adultos, principalmente quando tem filhos, tem um pensamento de mais autocontrole, mas apontam também sinais, como isolamento social, irritabilidade muito alta, recorrência ao uso de álcool, comportamentos fora do padrão”, declarou o psicólogo.
O serviço estadual oferecido a adultos e idosos no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) Madeira Mamoré, localizado na Rua Elias Gorayeb, 2576, Bairro Liberdade, atende por semana aproximadamente 400 pacientes em casos mais graves. O encaminhamento, na maioria dos casos é feito por um clínico geral das unidades básicas de saúde, mas em situações extremas de pessoas que procuram diretamente o CAPS e que sofrem com avançado estado de depressão os profissionais também dão o acolhimento.
“Nós temos um questionário que é respondido pelos pacientes já na primeira consulta, onde identificamos se aquela pessoa tem alguma ideia de morte, alguma ideia sobre suicídio ou se já tem um plano para isso, quando verificamos o grau real de risco. O tratamento varia de dois meses até um ano, com inclusão de mediação ou não”, explica o psicólogo, Edlei Timbó Passos.
A prevenção, de acordo com o psicólogo, é uma questão de educação de base, com crianças e adolescentes. “Detectar sintomas iniciais é muito importante”. Em Porto Velho, pelo menos uma pessoa por semana comete o suicídio, alerta o profissional. Na última década, segundo o psicólogo e diretor do CAPS, Daniel Amaral, os casos de morte por suicídio no Brasil aumentaram em 28 %, com uma média de 5.8% a cada 100 mil habitantes. A taxa não é a maior do mundo, mas está em crescimento, aumentando-se também a letalidade.
RONDÔNIA
Em Rondônia, nos últimos quatro anos foram 400 mortes por suicídio. Segundo dados do setor de estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesdec), somente nos primeiros cinco meses deste ano, 63 pessoas se suicidaram em todo o estado, sendo homens 45 casos, mulheres 16, e dois sem informação de sexo. Em 2018 foram 105 casos.
“O Ministério da Saúde diz que temos uma subnotificação de pelo menos 20%. Considerando isso, podemos estimar 480 mortes neste período. 90% das pessoas que tentam o suicídio sofrem ou sofriam algum transtorno mental, seja depressão ou esquizofrenia, mas não quer dizer que todas as pessoas que tem depressão ou esquizofrenia vão cometer. É uma característica do perfil. Fatores sociais como o desemprego e os altos índices de criminalidade reforçam a falta de perspectiva. Observar que pessoas que só conseguem ter relacionamentos com outras, apenas pelas redes sociais, podem estar em situação de risco”, diz Daniel.
Trabalhando para evitar o suicídio, os profissionais consideram quadro D’s: o desespero, a desesperança, desilusão, e o desamparo. “A combinação desses quatro sentimentos pode ser a razão para que a pessoa queira desistir, mas se nos pontos estratégicos, como na ponte do Brooklin nos Estados Unidos, forem instalados outdoors ou placas luminosas com mensagens que façam as pessoas refletirem é possível evitar o pior, em lugares que muitas vezes já estão no imaginário das pessoas”.
Daniel conclui dizendo que a base de cálculo mundial dá conta que para cada morte por suicídio considera-se 12 tentativas, ou seja, 11 pessoas conseguiram sobreviver.
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