Está caindo a casa dos Bolsonaro: será que agora Queiroz vai falar?

Só que nestes 14 meses passados, já deu mais do que tempo para ele sumir com todas as provas

Ricardo Kotscho
Publicada em 19 de dezembro de 2019 às 10:47
Está caindo a casa dos Bolsonaro: será que agora Queiroz vai falar?

"Se e quando Queiroz for ouvido, ele terá muito mais a explicar sobre o submundo político-miliciano em que os Bolsonaros se meteram no Rio antes de chegar ao Palácio do Planalto", analisa o jornalista Ricardo Kotscho. "Queiroz é peça-chave nesse esquema e, se resolver fazer delação, o que eu duvido muito, pode derrubar a casa de uma vez", acrescenta

A devassa desencadeada ontem pelo Ministério Público do Rio, contra a família Bolsonaro e assessores do clã, explica o nervosismo do presidente nos últimos dias, assustado com as investigações sobre “rachadinhas” e o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

O próprio Bolsonaro, em suas declarações semana passada no cercadinho do Alvorada, antecipou que novas denúncias viriam e acusou o governador do Rio, Wilson Witzel, de estar por trás da operação.

As primeiras denúncias contra Fabrício Queiroz, ex-PM que é motorista, segurança, faz-tudo e caixa da família, surgiram há 14 meses, tempo em que ele está desaparecido para tratar de um câncer em São Paulo.

O esquema foi descoberto pelo Coaf, sigla que até mudou de ministério e de letras nesse meio tempo, mas as investigações foram suspensas pelo presidente do STF, Dias Toffoli, atendendo a um pedido do filho 01 Flávio Bolsonaro, que chefiou Queiroz de 2007 a 2018.

Velho amigo do capitão Jair Bolsonaro desde os tempos de quartel, Queiroz virou uma lenda urbana antes da posse do clã e ganhou mais notoriedade quando a polícia carioca começou a investigar suas ligações com os milicianos acusados de executar Marielle.

A Operação de ontem do MP, que já estava planejada há seis meses, e só foi possível agora, depois do STF derrubar a liminar de Toffoli, está baseada nas “rachadinhas” no gabinete de Flávio, em que funcionários fantasmas devolviam parte do salário ao gabinete.

Mas, se e quando Queiroz for ouvido, ele terá muito mais a explicar sobre o submundo político-miliciano em que os Bolsonaros se meteram no Rio antes de chegar ao Palácio do Planalto.

Queiroz é peça-chave nesse esquema e, se resolver fazer delação, o que eu duvido muito, pode derrubar a casa de uma vez.

Só que nestes 14 meses passados, já deu mais do que tempo para ele sumir com todas as provas.

A polícia poderia começar perguntando quem paga o tratamento contra o câncer que Queiroz está fazendo no Hospital Albert Einstein, o mais caro do país.

Seria uma boa pista para chegar a quem interessa manter o silêncio do ex-assessor, fisgado pelo antigo Coaf com uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhões. .

Agentes foram a endereços de Queiroz e seus parentes no Rio (ele estava em São Paulo na última vez em que foi visto) e de outros assessores do hoje senador Flávio Bolsonaro.

Entre eles, estão nove parentes de Ana Siqueira da Rocha Valle, ex-mulher de Bolsonaro e mãe do seu filho Jair Renan, que moram em Resende, no sul do estado do Rio, e recebiam salários na Assembléia Legislativa.

Foram recolhidos documentos e celulares na casa de alguns dos investigados.

No total, eles cumprem 24 mandados de busca e apreensão. São investigados crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

Em outubro, mensagens reveladas pela Folha já mostravam a preocupação de Queiroz com as investigações do Ministério Público.

“Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí. Ver e tal… É só porrada. O MP tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.

Vida que segue.

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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