Establishment quer Lula domesticado

"Se levar um calor para ganhar de Bolsonaro, Lula pode ter que levar seu discurso mais ao centro ainda", escreve Helena Chagas

Helena Chagas
Publicada em 01 de setembro de 2022 às 12:50

www.brasil247.com - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: REUTERS/Carla Carniel)

Candidatos com 2% nas pesquisas não são alvo de ninguém, e daí a lógica de Simone Tebet - uma senadora articulada - ter, em tese, "ganhado" o debate Band-TVCultura. Pela mesma razão, Ciro Gomes (7%), talvez o mais experiente frequentador de debates da política brasileira nos últimos anos, também foi pouco atacado e saiu-se bem. Num quadro em que Lula lidera com 12 pontos de vantagem sobre Jair Bolsonaro (44% x 32%), segundo o IPEC, e ambos estão muito à frente dos demais, não parece haver possibilidade de qualquer mexida da chamada terceira via alterar o quadro da eleição.

A boa performance de Tebet e Ciro no debate, e sua oscilação positiva nas pesquisas, porém, provocou uma inaudita onda de entusiasmo no establishment, inclusive em setores da mídia. É como se sua modesta ascensão, que teria que se multiplicar muitas vezes em quatro semanas, tivesse o potencial de mudar alguma coisa.

Na prática, o que os setores das elites e da mídia vêem é a possibilidade de um eventual crescimento de Ciro e/ou Tebet, ainda que pequeno, tirar de vez de Lula a possibilidade de vitória no primeiro turno - hoje possível por décimos de pontos na margem de erro, que dão dão qualquer segurança ao petista.

Mas por que o establishment quer segundo turno? Porque não quer um Lula poderoso demais, com a força de uma vitória acachapante na primeira rodada, mais livre, leve e solto para governar. Claro, teve e terá que fazer concessões ao centro e à direita, mas se levar a taça em 2 de outubro, com o apoio maciço da sociedade, chegará mais forte ao Planalto.

Situação diferente será a de uma vitória em segundo turno, sempre mais sofrida, em que o candidato é obrigado a ampliar as alianças - inclusive e, sobretudo, com esses setores mais conservadores. Se levar um calor para ganhar de Bolsonaro, Lula pode ter que levar seu discurso mais ao centro ainda, fazendo concessões e adotando propostas de representantes do mercado e do empresariado.

O establishment sabe que Lula vai acabar ganhando mesmo a eleição, mas prefere que seja num segundo turno, domesticado.

Helena Chagas

Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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