O ano de 2023 já é história. Nele, a democracia venceu
Um breve balanço do primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula e da situação geopolítica mundial
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Quando as gavetas em Brasília começam a ser fechadas para o recesso de final de ano que se avizinha, é hora da retrospectiva. De olhar para trás e ver o que construímos e de como o país se prepara para um novo tempo. Embalados pelos versos de Ivan Lins - revividos pelos chineses -, vamos rumo a um “novo tempo, apesar dos perigos”.
Sim, eles nos rondam, sempre, mas devemos acreditar que o pior já passou e que 2023 já está nos apontamentos históricos. Este vai ser lembrado como o ano em que a democracia derrotou o fascismo nas urnas – eletrônicas, sim, por que não? – e pusemos a correr para o fosso da mediocridade o autoritarismo que nos ameaçava.
O 8 de janeiro, que fará em breve o primeiro aniversário, já ganhou status de data a ser incluída no calendário, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou dando alertas em falas recentes, de que não o deixará passar em brancas nuvens. Sabe o quanto lhe custou manter nas mãos o poder que lhe foi conferido pelo povo, pelos votos democráticos, alvo que foi dos ataques destrutivos do terrorismo, que subiu a rampa do Planalto dias depois de ele ter protagonizado ali uma ode à diversidade e à liberdade.
Outro episódio marcante, que merece ser lembrado como a consolidação da democracia foi o “day after”, o dia 9, quando o presidente liderou uma caminhada até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, ao lado da presidente do STF, a ministra Rosa Weber. A jornada a pé, que normalmente leva cerca de seis ou sete minutos, durou aproximadamente 30 minutos dado o número de políticos e profissionais da mídia que se reuniram ali, para aquele momento de demonstração da força e da união das instituições em defesa da Constituição do país. Caminharam ainda sobre os cacos dos vidros estilhaçados pelo vandalismo, que o processo e a condenação dos envolvidos a 17 anos de prisão trataram de tornar emblemáticos e exemplares.
O início do ano foi também marcado pelas imagens dramáticas dos nossos Yanomamis mal se sustentando sobre as próprias pernas, tendo ao colo os seus filhos em pele e osso, acometidos pela fome e o abandono. O governo recém-empossado baixou nas aldeias, levando acolhimento, recursos, remédios e defesa, contra os bandidos que lhes impunham o terror e o estupro de suas mulheres e filhas.
Este foi o ano em que o programa Bolsa Família, transformado em “bolsa eleitoral”, voltou às mãos de quem de fato necessita, com as características originais de pavimentar a saída da pobreza dos 33 milhões que haviam retornado a ela, nos malfadados anos anteriores, que de agora em diante só serão lembrados para não serem repetidos.
Todos os outros programas sociais que tanto beneficiaram a população de baixa renda foram retomados, acrescidos de outros, como o “Ruas visíveis”, sob a coordenação do padre Júlio Lancellotti. Lula abriu os braços e as portas do palácio para receber os que foram jogados na rua pelo desemprego e outras questões sociais gravíssimas, como o uso do crack, o alcoolismo e o abandono das políticas sociais.
Esse foi o ano em que Lula acreditou que podia e desabusou as previsões dos técnicos da economia, levando o Brasil a um crescimento de 3%, quando os “manuais” previam que chegaria apenas na casa de 1% e olhe lá.
O índice do desemprego, que já esteve rondando a casa de 15%, pós golpe de 2016 – mas não era só tirar a Dilma? -, registrou o patamar mais baixo desde os 4,6% conseguidos pela ex-presidente, derrubada por um impeachment, dentre outros motivos, por falta de sustentação política por seu “fracasso” econômico. Em 2023, por ironia, Dilma foi empossada como presidente do banco dos BRICS e apontada como a mulher economista de 2023. Haja cambalhota do destino!
Vimos em Dubai, pela primeira vez, na Cop-28, líderes temerosos com as catástrofes arrasadoras e os altos graus de temperatura pelas mudanças climáticas aquiescerem, pela primeira vez, que o combustível fóssil é, sim, o vilão e concordarem em registrar no documento final a perspectiva de uma transição energética limpa.
Lá fora, além-fronteiras, o “ícone” Zelensky perdeu tração, perdeu recursos para comprar armas e perdeu sustentação para continuar no cenário mundial como a vítima do momento. Sua figura tornou-se muito pequena, frente à realidade que se impôs. Um atentado em que 1.200 perderam a vida, em Israel, foi respondido com o massacre de um povo.
O horror, que antes nos chegava pela televisão, agora era transmitido em tempo real, pelas redes sociais. As imagens incontestáveis de mulheres e crianças queimadas vivas por bombas de fósforo branco - arma proibida para uso em guerras -, ou esmagadas sob lajes de concreto, (mais duras que o coração do ditador que veio a público prometendo exterminá-las), mudou o discurso vitimista do “atacado”. O mundo não conseguiu frear o massacre, pois o voto do império disse não à paz, mas deteve a mentira das versões.
Até ontem foram contabilizados, segundo o Haaretz, um dos principais jornais de Israel, 18.608 palestinos assassinados, 50.504 feridos. Como 70% da população palestina é formada por mulheres e crianças, sendo que crianças são 40%, é certo que mais de 12 mil mulheres foram assassinadas por Israel, sendo quase 8 mil, desse total, de crianças. Estão desaparecidas (leia-se "sob escombros"), 35 mil mulheres e 20 mil crianças.
Hoje, quando as atividades políticas caminham para o encerramento, quando já se buscam as receitas das guloseimas a serem preparadas para as mesas que podem exibi-las, nossos sentimentos vão para os que nada terão. Nem sequer o direito à vida.
Que em 2024 a paz seja alcançada, a fome mitigada e os integrantes do Congresso brasileiro entendam, de uma vez por todas, que o sistema de governo que o povo escolheu foi o presidencialismo. Qualquer outra maneira de atuar politicamente será encarada como uma nova modalidade de golpe. O suave e contínuo, que não nos convém.
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".
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Ele, homem, ela mulher. Ele inexperiente, ela veterana; ele radical, ela moderada; ele de esquerda, ela de direita. Pode parecer contradição, mas não é.
Comentários
Pergunto a essa jornaleca, para ela, qual é o significado de "democracia" aqui no Brasil? Nesse atual governo não estou vendo democracia nenhuma, mas sim, muitas perseguições, atos de vingança e injustiças.
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