Os Trapezistas do Circo da Fuleragem Assaltaram o Mercado Cultural
O bafo sonoro do berimbau de lata repercutiu azedo e cativante ao mesmo tempo, enquanto Dom Lauro verbalizava um canto tribal, tomando para si o cocar de pajé da nação Cojuba!
O bafo sonoro do berimbau de lata repercutiu azedo e cativante ao mesmo tempo, enquanto Dom Lauro verbalizava um canto tribal, tomando para si o cocar de pajé da nação Cojuba! Quanto à participação do poeta Eliezer, parafraseando dizeres já postos no papel, o fazedor de impropérios camonianos chegou intuitivo e lépido, e não se fez de rogado, e tendo a penumbra por cenário e palco, entoou seu canto poético como se fosse um profeta pregando na escuridão do templo e, por um segundo, o mundo todo se houvesse permitido escutá-lo! O reverberar de sua voz inundou o Mercado Cultural, espalhando retumbantes metáforas que se chocavam nas paredes do coração e resvalavam nos nervos atentos da plateia embasbacada com tanta Beradelia e Quilomboclada! E o que se viu foram os efeitos especiais de perífrases, onomatopeias e fonemas entrecortando o espaço, para delírio dos cordões tribalistas presentes ao desbunde cultural do Circo da Fuleragem! Chapiniano, Bototo deu seu recado em grande estilo!
Com o propósito desagradar ou perturbar gregos e troianos, subiram ao palco os Beradélicos e os Quilombocladas, para uma pajelança de cantos, dança, rituais e rasgos harmônicos e melódicos pulsante como as festas de celebração Karup no Alto Xingu! Nem tudo está perdido nesse mar de imbecilidade da música popular brasileira, se há sangue nas veias fervendo e neurônios inquietos no cibernético pensante dos meninos criados sem cueca à margem dos igarapés!
A massa musical posta em pauta no palco destoa, porque entoa a dissonância ferina, quebradiça, irrequieta ante o caricato de uma painel artístico brasileiro marcado pela febre tifoide da mediocridade! O grito dos Bera ganha, então, o vão do ouvido como o berro de uma onça pintada no meio do igapó, mostrando com quantas canoas se faz um pau de sebo do Terreiro Santa Bárbara! Se a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo, a alegria da plateia é ver o palhaço se suicidar no picadeiro! O palhaço-mor ostenta bravatas e bananas no Planalto Central do Brasil! Mas ele não é dono da companhia circense! O circo somos todos nós, trapezistas, mambembes, engolidores de fogo, atiradores de faca, domadores de feras e motoqueiros do globo da morte! Claro, tem os chimpanzés domesticados também!
Mas, entre o patético e a farsa, o discurso dos Bera, ante o contexto político, econômico e cultural que estamos vivendo hoje, é muitíssimo mais faceiro, disfarçante, desnudante e iconoclasta! À esquerda e à direita! Como deve ser um artista do livre pensar e fazer! Não dá pra fazer homeopatia numa UTI brasileia comandada por um fascista com o bisturi na mão ameaçando a todos! Numa República de Bananas, Fuleiro é aquele que não tem valor, que é medíocre, reles, minions zé buceta, escadinhas dos altos personagens do mundo corruptivo!
Remadores da distopia, sonhadores do estanque da sangria que acomete o sapo e não a jia, contraponto e construtores do som nosso e profano de cada dia, interlocutores entre a alma desalmada e a fagulha de utopia sobrevivendo ao tédio, os Beras e Quilombocladas nadaram de braçada em rio que tem piranha! Mas, como em rio que tem candiru mulher ingrata não faz negócio com peixe cachorro, falem bem ou mal, mas não deixem de falar dos caras que assaltaram o Mercado Cultural e roubaram de lá o silêncio e o cultismo à vácuo do monastério decorado para ser um centro artístico!
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Comentários
Mas que coisa mais imbecil! Tempo perdido ler tanta arrogância e pretensão.
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