Privação de liberdade é tema de evento internacional no CNJ

O Executivo não consegue criar vagas no mesmo ritmo, sendo que do total de 773 mil pessoas em privação de liberdade, faltam 312 mil vagas

Débora Zampier Agência CNJ de Notícias
Publicada em 20 de fevereiro de 2020 às 16:06
Privação de liberdade é tema de evento internacional no CNJ

Na última década, a população brasileira aumentou 7,82%, enquanto a população prisional cresceu 55,7%. O Executivo não consegue criar vagas no mesmo ritmo, sendo que do total de 773 mil pessoas em privação de liberdade, faltam 312 mil vagas. Prisões superlotadas, que segundo o Supremo Tribunal Federal operam em um estado de coisas inconstitucional (ADPF 347/2015), dificultam uma gestão eficiente do Estado e facilitam rebeliões e o crescimento do crime organizado. Enquanto isso, os gastos públicos com o sistema prisional não param de crescer – em 2018, a soma de dotações orçamentárias para políticas penitenciárias nas unidades da federação e na União ultrapassava R$ 15 bilhões.

Os desafios para que o sistema prisional e o sistema socioeducativo funcionem de acordo com o interesse público, assim como o papel do Judiciário para induzir essas transformações, são temas do seminário ‘Judiciário, sistema penal e sistema socioeducativo: questões estruturais e mudanças necessárias’. O evento internacional promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nos dias 3 e 4 de março é voltado a juízes e representantes do sistema de justiça criminal de todo o país e já está com inscrições encerradas, mas será transmitido ao vivo no YouTube (os links serão divulgados em breve).

Confira informações sobre o evento aqui.

O seminário faz parte das ações do programa Justiça Presente, parceria inédita entre o CNJ e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para superação e problemas históricos do sistema prisional e socioeducativo no país. Desde janeiro de 2019, o programa vem atuando junto a tribunais e outros parceiros locais para maior racionalização das diferentes fases do ciclo penal, em intervenções adequadas à realidade de cada unidade da federação.

Programação

A abertura do evento (3/3) terá a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Dias Toffoli. Entre os palestrantes já confirmados, estão o juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos Eugênio Raúl Zaffaroni, a advogada americana e ativista Fania Davis, o historiador camaronês Achille Mbembe e a pesquisadora inglesa Catherine Heard, um dos nomes por trás do maior acervo global de dados sobre prisões no mundo, o World Prison Brief.

O seminário abordará diversos aspectos no universo da infração penal, desde temas de fundo relativos à punição e responsabilização até experiências sobre crime organizado e análises comparadas sobre privação de liberdade e políticas penais em diferentes partes do mundo. O protagonismo do Judiciário para promoção de reformas segundo as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, as Regras de Nelson Mandela, também integra a programação.

O seminário também faz parte das ações que comemoram os 10 anos de criação do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do CNJ (DMF/CNJ). “Embora cada país tenha contextos sociais e arranjos institucionais próprios, há muitas questões comuns na área penal. Entre eles, debates sobre como o Estado pode contribuir para alterar a trajetória dessas pessoas e desafios para substituir a cultura do aprisionamento por investimentos em ações preventivas”, explica o coordenador do DMF, juiz Luís Geraldo Lanfredi.

Justiça Presente

O programa Justiça Presente surgiu como resposta do Judiciário ao estado de coisas inconstitucional apontado pelo STF, com alternativas possíveis à disparada do encarceramento que sobrecarrega o erário público e não possui eficácia comprovada para queda da criminalidade. A partir de boas práticas e parâmetros internacionais, o programa propõe maior qualificação da porta de entrada ao evitar prisões desnecessárias, melhoria na gestão processual e sistematização de dados por meio de tecnologia e políticas de cidadania para internos e egressos, incluindo oportunidades de trabalho e educação dentro e fora das prisões.

Confira os resultados do primeiro ano do Justiça Presente.

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