Reflexão sobre o nazismo-fascismo bolsonarista da atualidade

"O bolsonarismo também faz parte do movimento nazista-fascista. Portanto, todo bolsonarista é também um nazista-fascista", defende Jair de Souza

Jair de Souza
Publicada em 19 de janeiro de 2023 às 13:09
Reflexão sobre o nazismo-fascismo bolsonarista da atualidade

(Foto: Adriano Machado/Reuters)

É impossível conter a indignação ao assistir ao vídeo (https://youtu.be/RWnsghTTz34)  com as cenas do vandalismo terrorista praticado em Brasília por grupos de nazistas bolsonaristas quando da tentativa de golpe contra o novo governo de Lula em 08 de janeiro passado. As terríveis imagens que nos vêm aos olhos mostram uma furibunda matilha de bolsonaristas disputando entre si quem seria capaz de cometer as atrocidades mais estarrecedoras.

Como entender que possa haver seres humanos tão violentos e abusados como aqueles vistos no citado vídeo? O que explica a existência de pessoas dispostas a agir daquela maneira, inteiramente tomadas por uma ira incontrolada? Dar as respostas iniciais a estas indagações é nosso principal objetivo nas seguintes linhas deste texto.

Em primeiro lugar, não resta dúvidas de que aqueles que estavam com as mãos na massa cometendo os atos terroristas não demonstravam nenhum constrangimento quanto a sua exposição pública. Pelo contrário, todos ali pareciam estar orgulhosos do que estavam fazendo e, em lugar de se manter no anonimato, não perdiam a oportunidade de se fotografarem nos momentos em que consumavam a destruição do ambiente a seu redor.

O estudo histórico dos movimentos de tipo nazista e fascista pelo mundo ao longo do tempo nos revela que o elemento mais importante para sedimentar a atuação de suas bases de apoio é o ódio inoculado contra certos grupos sociais ou etnias. O nazismo-fascismo requer necessariamente a existência (real ou imaginária) de um inimigo absoluto, aquele contra o qual todas as forças devem ser lançadas. Contra esse inimigo vale tudo, inclusive praticar toda a sordidez que se acusa o inimigo de fazer.

E, por falar em nazismo-fascismo, convém ter em mente que o bolsonarismo é a atual versão brasileira dessa corrente político-ideológica de extrema direita. Sim, pretendo dizer exatamente o que as palavras expressam: o bolsonarismo também faz parte do movimento nazista-fascista. Portanto, todo bolsonarista é também um nazista-fascista.

Na construção do imaginário do inimigo maior que precisa ser combatido a toda custa no Brasil, um papel de muita relevância cabe àquelas correntes que atuam no campo religioso autodesignado como cristianismo evangélico, de modo mais expressivo entre as chamadas igrejas neopentecostais.

Antes de expor a maneira como vejo o funcionamento dessas correntes religiosas às quais faço referência, queria esclarecer como eu entendo que cada cristão deveria sentir e incorporar em sua vida cotidiana o espírito de Jesus.

Com base no que encontramos nos relatos de sua vida nos Evangelhos, a figura de Jesus está inteiramente dedicada à luta pela construção de uma humanidade justa, solidária, igualitária e feliz. Toda sua presença no convívio com sua gente se caracteriza por seu empenho em pôr fim às injustiças que vitimizam os mais carentes e necessitados, por sua dedicação em fazer prevalecer o sentimento de fraternidade coletiva, em sua condenação ao egoísmo e à exploração do ser humano pelo ser humano.

Para Jesus, não era admissível que alguns desfrutassem de enormes riquezas, enquanto outros estivessem passando necessidade. Não podemos deixar de nos recordar daquela passagem na qual Jesus diz: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. Aí está uma demonstração inequívoca de que Jesus sempre foi um ardoroso lutador pela justiça social.

Se para o islamismo, Jesus, assim como Maomé, é respeitado como um dos profetas divinos, mas não como o próprio Deus, o cristianismo considera Deus e Jesus como um ser uno e indivisível. Jesus é Deus, assim como Deus é Jesus. Em vista disto, deveríamos concluir que, para um cristão, defender em vida valores que se contrapõem ao que era expressamente defendido por Jesus equivale a contrariar os desígnios de Deus. E como quem rejeita deliberadamente os propósitos de Deus é o senhor das trevas, aqueles que combatem as propostas defendidas por Jesus acabam por atuar em conformidade com os interesses do diabo.

Feito este esclarecimento, voltemos à questão inicial. Como se dá a construção do inimigo absoluto para o nazismo-fascismo bolsonarista e como certas correntes ditas cristãs evangélicas neopentecostais contribuem com a essência de sua gestação?

É notório que, para boa parte das igrejas mencionadas, o grande protagonista em seus cultos e em suas mensagens já não é Jesus, senão que o diabo. Embora seja apresentado como o ápice da maldade, é o diabo que concentra o grosso da atenção nas pregações dessas igrejas. O que ali mais se propõe é travar a luta contra o diabo, descarregar todo nosso ódio contra esse inimigo visceral do cristianismo. Quase não se fala em lutar para tornar realidade os desejos nutridos em vida por Jesus. Ou melhor, não se fala absolutamente nada a esse respeito. O prioritário passa a ser odiar ao diabo, e não o desejo de seguir o caminho indicado por Jesus.

Este ponto recém-mencionado é importante. Os psicólogos e psicanalistas sabem que, uma vez absorvida pelo ódio a uma determinada raça ou grupo social, a pessoa imbuída de tal sentimento não hesitará ante nada em seu objetivo de destruir o alvo de sua fúria. E, para tal propósito, vale literalmente tudo. Em outras palavras, se for para derrotar e aniquilar aquilo que equiparamos ao diabo, não devemos vacilar em nos comportar exatamente da mesma maneira que dizemos que o diabo se comportaria. O ódio que nutrimos contra nosso inimigo absoluto justifica tudo e, por isso, tudo nos será perdoado.

Sabemos que os movimentos de tipo nazismo-fascismo-bolsonarismo são um instrumento ao qual os grandes capitalistas recorrem em momentos de sérias crises, em que veem seus interesses ameaçados por outras forças sociais. Como os potentados capitalistas são uma ínfima minoria da população, quase nunca ultrapassando 5% da mesma, eles dependem necessariamente do apoio proveniente de outros setores sociais.

Para angariar a simpatia das camadas médias, via de regra, é suficiente aguçar e atiçar os inúmeros preconceitos desses grupos contra as maiorias mais humildes. O conforto mental de sentir que há outros abaixo de si na escala social costuma funcionar para transformar muitas dessas pessoas em aliados das classes dominantes em seus embates contra as maiorias populares.

No entanto, através das atividades de instituições religiosas adeptas do neopentecostalismo, uma parte significativa das massas populares também está sendo levada a apoiar a famigerada minoria dos super abastados que se locupletam com o trabalho de toda a nação. O modus operandi dessas instituições que se dizem cristãs é o de catalogar os principais adversários dos projetos das classes dominantes como associados do diabo. Com isto, com o pretexto de combater as forças do demônio, vale até mesmo fazer as maldades que se diz que o diabo faz.

Evidentemente, para alcançar seus objetivos, os manipuladores da fé precisam manter longe de seus seguidores tudo o que de fato tenha a ver com o legado de vida de Jesus. Não se menciona os propósitos de Jesus, não se fala de justiça social, não se toca no tema da solidariedade humana, não se condena o egoísmo e a avareza. Nada disso! Do outro lado está o diabo. Vale tudo contra ele.

Para todos os que estão em condições de analisar o panorama sem ofuscação mental, está mais do que evidente que o nome de Jesus vem sendo manipulado para tergiversar os objetivos pelos quais ele sempre lutou. Na verdade, poderíamos mesmo dizer, que existem verdadeiros pilantras fazendo uso do nome de Jesus para tentar emplacar coisas que têm muito mais a ver com os vaticínios do diabo. São esses pilantras serviçais do diabo que se aproveitam da fé do povo humilde que vai em busca de Jesus e tratam de desviá-lo para o caminho do mal e do egoísmo. Contra essa corja de malfeitores todos nós devemos lutar.

Voltando às cenas do vídeo mencionado no começo deste texto, podemos agora entender que a motivação principal que instigou àquele contingente de nazistas bolsonaristas a praticar todo tipo de baderna contra os símbolos de poder na capital do país foi o ódio contra o povo trabalhador, simbolizado em Lula e no PT, que lhes vem sendo injetado de modo intensivo há bem mais de uma década.

Desde que Lula foi eleito pela primeira vez e assumiu o governo em 2003, as classes dominantes brasileiras definiram a ele e a seu partido (PT) como o inimigo a ser exterminado. Neste processo de tentativa de erradicar Lula, o PT e sua influência política do cenário nacional, participaram ativamente todos os grandes conglomerados de comunicação do país, com destaque para a rede Globo. Foram mais de uma década de martelação constante. Depois de Lula ter deixado o governo, foi intensificado o empenho combinado dessa mídia corporativa para transformar no maior expoente da corrupção que já pisou o solo nacional aquele que tinha saído de seus dois mandatos presidenciais como o presidente mais bem avaliado de nossa história.

Apesar de ter tido toda sua vida e as de seus familiares vasculhadas, não foi possível encontrar em suas contas nenhum centavo obtido por Lula de maneira criminosa. Por isso, tiveram de forjar uma acusação falsa sobre um imóvel falso (o ultra-falado triplex do Guarujá) para acusá-lo e condená-lo sem nenhuma prova e mantê-lo em prisão. Foi a saída encontrada para impedir que ele se saísse vitorioso novamente nas eleições de 2018.

Nesse caldo de cultivo do ódio generalizado contra Lula e o PT, veio à tona o nazismo bolsonarista que há muito tempo andava latente entre boa parte de nossa população. Se era para cultivar e destilar o ódio, ninguém melhor do que os nazistas bolsonaristas para fazê-lo por aqui. E foi assim que a podridão bolsonarista e o desprezível capitão miliciano que há quase três décadas andava vagabundeando de picaretagem em picaretagem pelo baixo clero parlamentar ganharam a primeira plana do cenário político do país.

Para que o nazismo bolsonarista adquirisse peso e expressão numérica, o papel dos manipuladores da religião foi essencial. Para zelar por seus interesses diabólicos, para garantir a continuidade do medonho quadro de injustiça social presente em nossas terras, os picaretas que atuam como empresários da fé atraíram grandes levas de gente humilde e desamparada apelando para o nome de Jesus. Esses aproveitadores recebiam aos que iam à procura das orientações de Jesus oferecendo-lhes as artimanhas do diabo.

Uma vez mais, o ódio e a hipocrisia se combinaram para preservar interesses inconfessáveis. Lula passou 580 dias preso por um apartamento avaliado em menos de 2 milhões de reais que nem era seu. Foi o suficiente para que a mídia corporativa e o bolsonarismo grudassem nele a pecha de “o maior corrupto da nação”, o “Lulaladrão”. Agora, com a quebra do sigilo de 100 anos que o ex-capitão nazista bolsonarista tinha imposto sobre seu cartão corporativo, os gastos não justificados descobertos em suas operações indicam que dariam para adquirir mais de 10 tríplex iguais ao que foi indevidamente usado para condenar Lula. E se fôssemos abordar o caso dos 106 imóveis comprados pela família do líder nazista bolsonarista (51 deles em dinheiro vivo), aí, a podridão moral ficaria ainda mais evidente. Mas, isso não vem ao caso. Se for para destruir o inimigo absoluto, os farsantes de todas as pelagens aceitam essas malfeitorias sem pestanejar.

Seguindo esta linha de pensamento, para combater àqueles que colocamos como alvo principal de nosso ódio, podemos agir da mesma maneira que o diabo faria. E é assim que estão agindo os empresários exploradores da fé. O que vem a ser uma tristeza para todos os que defendemos com sinceridade o legado e as aspirações de Jesus constantes nas páginas dos Evangelhos.

Em vista do que acabamos de expor, passa a ser relativamente fácil entender as motivações que estavam por trás das cenas de horror praticadas por apoiadores do nazismo-fascismo bolsonarista observadas no vídeo mencionado no começo deste texto.

Jair de Souza

Economista formado pela UFRJ, mestre em linguística também pela UFRJ

Comentários

  • 1
    image
    Melanias 20/01/2023

    Texto confuso, a clareza está nas palavras esquerdistas do autor. Não devemos culpar as pessoas pelos nossos erros, pois está evidente que não temos neste País o estado de direito democrático tão divulgado pela mídia.

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