Resenha Política, por Robson Oliveira
Conformado antecipadamente com a cassação, Bolsonaro está caladinho para evitar decisões mais gravames do que a inelegibilidade
DOIS PESOS
Impressionante como o discurso do Governo de Rondônia nem sempre corresponde com a prática quando o tema é desenvolvimento agrícola e pecuária. Em maio Marcos Rocha deslocou toda a estrutura governamental para o município de Ji-Paraná priorizando o maior evento do agronegócio da Região Norte. O fez de forma acertada por ser um setor que contribui com o desenvolvimento estadual e eleva cada vez mais a balança comercial. Mas em relação a outro importante evento rondoniense, a Expocol, que acontece todos os anos em Colorado do Oeste, e cada vez mais crescente, onde se premia as melhores matrizes do gado leiteiro de Rondônia, nem o Secretário de Agricultura, Luiz Paulo, deu as caras.
DUAS MEDIDAS
Enquanto o Rondônia Rural de Jipa recebe todo apoio técnico e político se estruturando com um volume enorme de negócios, o evento leiteiro de Colorado começa a se desenvolver por dedicação e persistência de pecuaristas abnegados daquele município, a exemplo de Ênio Milani. E para se ter uma ideia, a Expocol é a única exposição agropecuária realizada no Cone Sul, sendo também modelo do negócio leiteiro da Região Norte do país. É nele que ocorre anualmente, entre os dias 14 e 18 de junho, o mais importante concurso leiteiro do Estado e do Norte, projetando a qualidade do rebanho bovino rondoniense para o mundo. Sem apoio governamental é inconcebível os pesos e as medidas do governador Marcos Rocha entre os dois eventos, embora ambos sejam importantes para nossa economia uma vez que Rondônia é importante exportador de proteína animal e começa a crescer nos produtos derivados do leite.
VISÃO
Ao que parece é que a Secretaria da Agricultura, que em período recente foi administrada por uma pessoa com uma visão turva sobre agronegócio e olhos coalhos no que se refere à pecuária, visto que sua principal virtude na área era o parentesco com um deputado estadual vilhenense, iria dar um salto de qualidade com a indicação de Luiz Paulo, revela que é mais um gestor que desafina no compasso administrativo e toca a gestão de forma atabalhoada. Ignorar a Expocol é relegar a segundo plano a agropecuária que tanto o governo se regozija em contar as cabeças das reses para divulgar em suas propagandas.
VOLUME
Para se ter uma ideia e mensurar a importância do evento coloradense a edição deste ano em termos de concurso leiteiro, a vaca campeã produziu em três dias, mais de 147 quilos de leite, sendo que no último dia de coleta a ordenha do animal produziu 51,7 quilos de leite. Entre as vinte vacas que estavam disputando o concurso, a menor produtividade foi de 81 quilos por três dias.
APOIO
O evento é um feito graças à dedicação e esmero dos sitiantes de Colorado do Oeste, além dos produtores dos demais municípios que compõem o Cone Sul estadual e que investem em tecnologia de ponta, genética apurada, alimentação de qualidade, manejo correto, resultando em animais de altíssima qualidade, com uma capacidade produtiva satisfatória que em nada deixa a desejar aos melhores rebanhos leiteiros do Brasil. Imagine se o evento obtivesse o mesmo apoio que o governo concedeu ao Rondônia Rural o quanto nossa pecuária e os derivados do leite não iriam impulsionar a economia rondoniense.
PRESENÇA
A Seagri, a Emater e os demais órgãos afins ao agro e à pecuária deveriam olhar em 2024 melhor para Expocol uma vez que o pior cego é aquele que não quer ver. Um governo coalho para o agro, o mesmo que tanto o governador acena politicamente, não é um gestor inteligente que se aquartela para dar continência para uma única direção. É obrigação o Governo de Rondônia estar presente com a sua estrutura na Expocol do próximo ano, um evento que somente revela o quanto a agropecuária estadual evolui e produz seus derivados em escala satisfatória.
ALFANDEGAMENTO
Outro setor da economia estadual que corre um gravíssimo perigo de estrangular é o portuário. Nosso porto da capital é (ou era) alfandegado há mais de trinta anos, aumentando cada vez mais a exportação dos nossos produtos para outros mercados. O que pouco gente sabe é que trinta anos depois está na iminência de sofrer um retrocesso inimaginável com o risco de perder sua alfândega porque o governo estadual descumpriu com as obrigações nas adequações das obras exigidas por portarias ministeriais para seu funcionamento.
PORTO
Tais obras no terminal portuário são exigências técnicas para que os produtos que são exportados sejam transportados dentro de critérios impostos pelos próprios mercados consumidores e para a melhor segurança da navegação. O problema é que os responsáveis pelo porto da capital conseguiram fazer uma lambança absurda com obras desconexas aos padrões estabelecidos. Uma incompetência abissal que impacta a economia de Porto Velho e reflete na balança comercial de Rondônia, uma vez que grãos, produtos minerais e proteínas animais, entre outros, ficam prejudicados para exportação sem a alfandegagem.
BARBEIRAGEM
A barbeiragem pode custar muito caro para nossa economia. Ainda mais para um governador que insiste em manter-se longe do Governo Federal por questões ideológicas idiotas, haja vista que os interesses estaduais devem prevalecer acima destes tensionamentos que são “naturais” somente nas campanhas eleitorais. Sem ajuda e agilidade dos órgãos federais e apoio político federal nosso porto voltará a ser um velho atracador de canoa. Sem importância nenhuma econômica.
COMPADRIO
A coluna foi pesquisar a expertise dos atuais responsáveis pelo modal portuário e concluiu que as nomeações seguiram tão somente o critério do compadrio já que nenhum dos nomeados são especialistas da área. Um terminal tão importante para a economia de Rondônia virou mais uma sinecura para a perniciosa prática do compadrio.
DENÚNCIA
Encontra-se sobre a mesa de um diligente Procurador do Ministério de Contas uma denúncia para que se investigue o contrato N° 631/PGE/21, firmado entre a Secretaria Estadual da Saúde (contratante) e a Fundação Ezute (contratada), firmado em 24 de setembro 2021, no valor de três milhões, quatrocentos e noventa e dois mil reais, com acréscimo de 25%. São valores quitados destinados à construção do Heuro e que são alvo da investigação. Segundo a denúncia, encaminhada via ouvidoria do TCE, há, em tese, prejuízos ao erário que deverão ser avaliados. Estamos de olhos vivos e acompanhando passa a passo a edificação e contratação dos serviços do Heuro. Hoje, envolto de alguns questionamentos.
CONFORMADO
Em Brasília é vista como certa a cassação do ex-presidente Bolsonaro pelo Tribunal Superior Eleitoral pelas afrontas aos dispositivos da legislação eleitoral que, nos estados, alcançam tudo e todos. Quem assistiu atento à campanha eleitoral, tendo um mínimo de dignidade intelectual, sabe que Bolsonaro atropelava a lei eleitoral e dia sim e outro também afrontava os tribunais com a suposta denúncia de fraude nas urnas eletrônicas, nunca comprovadas e que tanto tumultuaram o processo. Para desmentir a farsa os votos obtidos nas urnas pelos apoiadores que formam hoje o Congresso Nacional são maiores do que os obtidos pela esquerda, desmontando o discurso golpista que entabulou em toda a campanha como atos preparatórios para um golpe que nunca se confirmou graças à posição admirável das instituições brasileiras. Conformado antecipadamente com a cassação, Bolsonaro está caladinho para evitar decisões mais gravames do que a inelegibilidade.
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