Toffoli: liberdade de expressão não pode alimentar desinformação

“Se é certo que a liberdade de expressão encerra vasta proteção constitucional, não menos certo é que ela deve ser exercida em harmonia com os demais direitos e valores constitucionais”.

Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil/Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Publicada em 18 de abril de 2019 às 08:39
Toffoli: liberdade de expressão não pode alimentar desinformação

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, defendeu ontem (17), na capital paulista, o direito à liberdade de expressão. No entanto, ele ressalvou que esse direito não pode servir para “alimentar a desinformação”. 

“A liberdade de expressão não deve servir à alimentação do ódio, da intolerância, da desinformação. Essas situações representam a utilização abusiva desse direito. Se permitirmos que isso aconteça, estaremos colocando em risco as conquistas alcançadas sob a Constituição de 1988”, disse em palestra na Congregação Israelita Paulista (CIP). “Se é certo que a liberdade de expressão encerra vasta proteção constitucional, não menos certo é que ela deve ser exercida em harmonia com os demais direitos e valores constitucionais”.
    
Toffoli citou o julgamento pelo STF de um escritor que publicou um livro com conteúdo antissemita. “Foi por essa razão que o STF, em histórico julgamento, proferido em 2004, manteve a condenação de um escritor e editor julgado pelo crime de antissemitismo, por publicar, vender e distribuir material antissemita. Liberdade de expressão não é absoluta”, disse.

De acordo com o presidente do STF, nesse caso, a garantia da liberdade de expressão foi afastada em nome dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. “As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição Federal”.

Inquérito contra “fake news”

As declarações de Toffoli ocorrem no momento em que aProcuradoria-Geral da República e o ministro do STF Edson Fachin estão questionando o inquérito aberto, no mês passado, a pedido do presidente do STF, para apuração de notícias falsas que tenham a Corte como alvo.

A medida foi tomada “considerando a existência de notícias fraudulentas, conhecidas como fake news, denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de ânimos caluniantes, difamantes e injuriantes, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal (STF), de seus membros e familiares”, segundo disse Toffoli na abertura do inquérito. Ele designou o ministro Alexandre de Moraes como relator da investigação, sem dar mais detalhes sobre o alvo específico do inquérito. Segundo a assessoria do Supremo, trata-se de um procedimento sigiloso.

Ontem, Fachin pediu que o ministro Alexandre de Moraes se manifeste, no prazo de cinco dias, sobre o inquérito aberto pela própria Corte.

Poder de quando decidir

O presidente do STF disse que estuda levar ao Congresso Nacional a sugestão de que a Corte Suprema passe a poder escolher quando decidir as ações que lhes são enviadas. Segundo ele, a judicialização da política está fazendo com que o STF seja sobrecarregado de ações.

“O partido que perde a sua posição no Congresso, no dia seguinte está no Supremo. E, ao contrário da Suprema Corte [dos Estados Unidos], nós não podemos dizer ‘isso aqui não julgo’. Mas aquilo não é o momento adequado de julgar e aí vem o pedido de vista, e aí o colega é criticado porque pediu vista”, disse. “Eu inclusive estou pensando em propor ao Congresso que nós tenhamos esse poder de dizer ‘isso aqui não é momento de decidir’. Não vamos julgar. Deixa para o futuro”. 
                                
De acordo com Toffoli, no ano passado foram tomadas 12 mil decisões colegiadas, pelas turmas e pelo plenário do STF. 

Comentários

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    José Pinto da Silva 18/04/2019

    Ministro Toffoli! No caso da Odebrecht, eu não vejo ofensa ao STF, mas ao Senhor. Veja bem, quando o senhor proíbe a veiculação da notícia pelos meios de comunicação, somos levado a pensar que o ilustre Ministro tenta esconder alguma maracutaia, o que acredito não seja verdade. Assim, para não dar azo a imaginação de pessoas maldosa, como eu, é melhor o senhor permitir a apuração plena, divulgação em massa, pela mídia. No final o senhor vai provar a sua inocência e o relatório o absolverá, servindo-lhe de atestado de idoneidade. Com isso e o ilustre Ministro pode, decentemente, via judiciário, responsabilizar quem o ofendeu Quem não deve age assim. Quem deve tenta esconder o ilícito que cometeu. Antes que eu esqueça: o sumiço da peça nos altos(a acusação que lhe é imputada) como noticiado, torna a situação mais confusa.

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