Tribunais se mobilizam para efetivar acordo dos planos econômicos

Ex-corretora de imóveis, moradora de São Paulo e prestes a completar 93 anos, ela é um dos milhares de poupadores com direito a indenização por perdas decorrentes dos planos econômicos das décadas de 80 e 90

Luciana Otoni Agência CNJ de Notícias
Publicada em 14 de agosto de 2019 às 13:27
Tribunais se mobilizam para efetivar acordo dos planos econômicos

Prestes a completar 93 anos, a aposentada Maria Cheropovic aceitou as condições do acordo. Foto:G.Dettmar/Ag.CNJ

“Não esperava mais. Até brinquei: vai ser uma surpresa! Tenho uma garrafa de champanhe que faz tempo, vamos estourar e beber.” O depoimento expressa a satisfação da aposentada Maria Cheropovic. Ex-corretora de imóveis, moradora de São Paulo e prestes a completar 93 anos, ela é um dos milhares de poupadores com direito a indenização por perdas decorrentes dos planos econômicos das décadas de 80 e 90.

Leia mais: Justiça protagoniza homologação de acordos dos planos econômicos

Assim como Maria Cheropovic, outras pessoas da terceira idade têm recebido correspondência emitida por um órgão da Justiça ou por uma instituição financeira informando sobre o acordo firmado entre representantes dos poupadores e dos bancos para o ressarcimento das perdas.

 A Justiça tem buscado ampliar o acesso dos autores das ações judiciais aos termos do acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir-lhes os valores correspondentes e o encerramento dos processos judiciais. “Entrei na Justiça porque tinha coisas para receber e fui ao advogado. Estou muito satisfeita porque tenho alguma coisa para resolver, já não esperava mais”, conta Maria Cheropovic.

Diálogo e entendimento

Em todo o país, audiências têm criado as condições para que as pessoas tenham acesso às informações e aos cálculos das indenizações.

Em São Paulo, uma das capitais com o maior número de processos, o Tribunal Regional Federal da Terceira Região (TRF3) mobilizou a Central de Conciliação para receber os poupadores. Os processos em tramitação na Corte, um órgão da Justiça Federal, envolvem contas de poupança geridas pela Caixa Econômica Federal (CEF).

A partir disso, o que se vê em três andares do prédio da Central de Conciliação do TRF-3, na Praça da República no centro de São Paulo, são centenas de pessoas da terceira idade em busca de informações e entendimento sobre o valor das indenizações.

A fim de criar uma atmosfera que favoreça o diálogo e o entendimento, a Central recebe os poupadores em ambientes amplos e sem divisórias. Autores e seus advogados se encontram com representantes da CEF e têm acesso a um acordo com valores previamente calculados conforme os critérios do entendimento homologado pelo STF.

Nesse mesmo ambiente - e em meio aos aposentados e advogados – à medida que os acordos são firmados, os juízes federais Bruno Takahashi e Herbert Cornelio Pieter de Bruyn Junior assinam as sentenças homologatórias, que levam ao encerramento da ação que tramitava na Justiça.

A cada semana de mutirão, são chamados 3 mil pessoas com direito à indenização. “O que estamos fazendo é operacionalizar o acordo homologado pelo Supremo. Estamos abrindo as portas para que as pessoas que queiram aceitar o acordo tenham condições de analisar as informações e os cálculos”, afirma o juiz Bruno Takahashi.

Na Central de Conciliação do TRF3, foram realizadas forças-tarefa de acordo dos planos econômicos em todos os meses desde novembro de 2018, à exceção de abril.

Boa aceitação

Em termos de aceitação dos termos para a adesão, o juiz Herbert Cornelio Pieter explica que do total de pessoas chamadas a cada semana o comparecimento é de 50%. E, dos comparecem, cerca de 75% aceitam aderir.

“É um volume muito grande de processos e estamos tentando fazer acordos em massa. De novembro do ano passado até junho, fechamos 13 mil acordos, aproximadamente”, informa.

Segundo ele, a partir das experiências nos mutirões, foi verificado que pessoas com valores mais baixos de indenização tendem a firmar os acordos. Quem tem quantias mais elevadas a receber costumam solicitar a verificação dos cálculos e, em várias situações, preferem não firmar acordo e manter a ação na Justiça.

Alguns poupadores e advogados consideram que a proposta não é vantajosa considerando o deságio que incide sobre valores acima de R$ 5 mil. Esse é o caso do advogado Marcelo Oliveira. “O acordo está sendo bem recebido porque as pessoas com direito à indenização não têm esperança de ver esse processo julgado de forma satisfatória num futuro próximo. São pessoas de idade, que não têm expectativa longa de vida e na hora do recebimento se veem frustradas”, comenta.

Mala de extratos e um beijo no juiz

Os mutirões realizados pela Central de Conciliação do TRF3, e que terão prosseguimento neste segundo semestre, têm mobilizado juízes, servidores e conciliadores voluntários.

Nessa força-tarefa, uma das compensações aos envolvidos são as histórias que surgem durante as audiências. Em um dos casos, relata a analista judiciária Anna Mizoe, a equipe da unidade se esforçou para prestar informações a uma senhora que tinha mais de 20 contas na Caixa Econômica à época dos planos econômicos. “Ela tinha uma mala de extratos! E pediu pra conferir os cálculos em todas as contas com direito à indenização.”

Em outro caso, conta Anna, uma outra senhora ficou tão satisfeita com o acordo que comprou caixas de bombons e distribuiu a todos na Central de Conciliação. “E depois disso, ela chegou perto de mim e disse: ‘E ainda dei um beijo no juiz.’”

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