Um terrorista doidão não existe sem um fascistão
São os grandes patriotas que acionam os impulsos dos doidões para tentar invadir a Polícia Federal e manter o blefe do golpe vivo", diz Moisés Mendes
Terrorista bolsonarista George Washington Sousa (Foto: Reprodução)
Já sabemos bastante do homem da bomba de Brasília, mesmo que informações relevantes ainda sejam controversas.
Uma hora George Washington de Oliveira Sousa é dono de posto de gasolina e logo depois é apenas o gerente. Já se sabe que ele é o tal fazedor de dinheiro que se mete em todo tipo de rolo.
Tem negócios no Pará e em outros Estados, sempre em redutos da Amazônia tomados pela bandidagem.
A história da vida de um cara com esse perfil, agora metido com terrorismo, pode ocupar páginas e páginas de jornal. Pode até virar livro.
As revelações sobre um sujeito como George Washington vão nos remeter sempre para relatos semelhantes aos que tentaram desvendar o homem das guampas que invadiu o Capitólio.
O terrorista brasileiro e Jacob Anthony Chansley são figuras que o fascismo transforma em pessoas esdrúxulas. Porque a tendência é a de vê-los como caricaturas.
Já disseram que George é doidão. Chansley também era doidão. Faltam as guampas no brasileiro, mas seu depoimento à Polícia é semelhante ao do americano.
Criar o caos, provocar uma intervenção militar, evitar o avanço do comunismo e salvar o mundo. A extrema direita é doidona.
Mas nesse esforço para desqualificar o fascismo, tirando dos ativistas doidões qualquer resquício de racionalidade, acabamos por nos contentar com o grotesco como explicação.
E esquecemos que os acomodados acima dos patriotas americanos e dos manés brasileiros não usam guampas, não frequentam acampamentos e não carregam bombas.
São eles, os grandes patriotas, que acionam os impulsos dos doidões e não-doidões para tentar invadir o Capitólio ou a Polícia Federal e manter o blefe do golpe vivo até hoje, agora com bombas.
O fascistão, o sujeito que deve fidelidade a Bolsonaro pelos favores que recebeu em quatro anos de governo, não é uma caricatura. Esse não é doidão.
O fascistão milionário é o cara que movimenta a engrenagem, das fake news aos acampamentos, com muito dinheiro. Ele é rico, é assumidamente fascista e ainda não foi pego exatamente por isso.
Não tem imunidades, mas tem dinheiro. A hora do fascistão ainda não chegou, mas terá de chegar. Porque a prisão do doidão do Pará e dos chinelões que ainda serão presos não tranca a engrenagem.
Precisamos saber das conexões do homem da bomba, para entender, por exemplo, como ele entrou no Senado e participou de uma reunião da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle, no dia 30 de novembro.
O sujeito estava ali por ter relações com alguém com poder, é quase certo que um senador. Precisamos saber quem é o senador.
Em algum momento também saberemos quem financiou a compra do arsenal que ele levou a Brasília. Como conseguiu gastar R$ 160 mil em armas e munições?
Um doidão como esse não vai em frente sem o apoio de um fascistão com dinheiro.
O futuro ministro da Justiça, Flavio Dino, disse na segunda-feira: “Há gente poderosa financiando os acampamentos”.
Há gente poderosa financiando o gabinete do ódio e as fakes news desde 2018. Dino sabe quem é essa gente poderosa. Alexandre de Moraes sabe há muito mais tempo.
Por isso as informações sobre os manés somente terão valor se, além de mostrarem quem são os terroristas, levarem aos que sustentam as ações do fascismo, não só agora, mas desde o começo do governo de Bolsonaro.
Um mané é apenas um mané, se não tiver o suporte dos ricaços da extrema direita, que gozaram de privilégios e ilegalidades sob a proteção de Bolsonaro e da frouxidão do sistema de Justiça.
É simples e pode ser resumido assim: um doidão não existe sem um fascistão com poder econômico e com proteção, inclusive dos homens sem brio do Judiciário.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre
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