É hora do governo reconhecer a importância econômica do artesanato
Talvez eu não consiga me expressar como alguém que entende de governo ou de economia
Talvez eu não consiga me expressar como alguém que entende de governo ou de economia. Sou apenas uma mãe, que, como tantas outras, governa sua casa e vive no dia a dia os impactos econômicos no preço dos alimentos, na conta de energia, na recarga do celular. E que ajuda o marido no orçamento doméstico com a produção de artesanato.
“Natural de Porto Velho, casada, artesã”, é assim que me identifico quando tenho que preencher algum formulário. E essas são três qualidades das quais eu gosto muito. Ser uma dona-de-casa e mãe de família pra mim significa muito, pois me dá a oportunidade de preparar minhas filhas para que venham a me superar e tenham uma vida ainda melhor que a minha.
Ser porto-velhense é tudo de bom. Tenho muita honra de ter nascido aqui e confio em Deus que Porto Velho um dia ainda vai ser administrada por quem de fato cuide dessa cidade com o carinho que nosso povo merece, pois nenhum outro povo recebe com tanto carinho aqueles que chegam de fora para contribuir com o crescimento da nossa cidade e do nosso Estado.
E ser artesã me dá uma satisfação muito grande, principalmente quando tenho a oportunidade de visitar alguma criança com seu quarto decorado pelas peças que eu produzo. Cores, vida e alegria, que compartilho com clientes e amigos através do meu trabalho.
Tenho visto muitas notícias e comentários nos jornais e nas redes sociais sobre as medidas que o governo deve tomar para reativar a economia depois que o isolamento social acabar e mesmo já agora, durante a pandemia, garantindo comida na mesa de nossas famílias. Espero, sinceramente, que o governo dê a devida atenção para o artesanato.
Muita coisa que é feita por artesãos substitui plenamente produtos das fábricas que, para funcionarem, precisam ter seus operários reunidos num mesmo espaço e indo e voltando para casa diariamente. E qualquer pessoa de bom senso sabe que isso aumenta o risco de contaminação. Um exemplo de uma coisa simples é um porta-lápis, desses que encontramos em todas as mesas de trabalho nas repartições públicas. Mas o governo só compra aqueles de plástico, geralmente pretos, sem graça, sem colorido, sem vida.
Seria tão difícil uma iniciativa de um governante no sentido de favorecer a compra da produção artesanal? Acredito que não. Pra mim é mais uma questão de boa vontade. Só isso. E aqui dei apenas o exemplo do porta-lápis, mas temos também a decoração das creches públicas, a produção de mantas de tricô e crochê para recém-nascidos e mais uma infinidade de coisas que são produzidas por pais, mães e também jovens, dentro de suas próprias casas, numa jornada de trabalho conciliada com as tarefas domésticas.
Espero que alguma autoridade pública pense nisso. Pois, dessa forma, o governo também estará nos ajudando. E vamos nos sentir muito mais felizes em recebermos um pagamento pelo nosso trabalho, por aquilo que produzimos, do que engrossando a fila daqueles que, verdadeiramente impedidos de trabalhar, precisam da ajuda financeira do governo para sobreviverem a essa crise.
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