Muito obrigado, coronavírus

'São estes os tempos que põem à prova as almas dos homens'

Reginaldo Trindade
Publicada em 25 de março de 2020 às 08:56
Muito obrigado, coronavírus

A célebre frase de Thomas Paine, proferida em plena batalha de independência dos Estados Unidos, há mais de duzentos anos, nunca esteve tão atual e verdadeira.

Nossa geração, ao menos a dos até meio século de vida, não testemunhou uma crise dessa grandeza, que desafia o mundo inteiro.

O Centro de Porto Velho/RO no sábado último estava completamente fechado. Bem mais que em dia de Natal que caiu em pleno domingo. Cenário de terra arrasada. Cenário de guerra – e olha que o míssil, o verdadeiro míssil sequer chegou. Ainda.

O que vai ser de ambulantes, autônomos e comerciantes? Como sobreviverão por dois, três meses (ou mais!!!!) sem o ganha-pão?

Todos eles fazem de dia para comer de noite ou mesmo trabalham de sol a sol, diuturnamente, para pagar as contas no final de cada mês... Conseguem imaginar o desespero de, em meio a tamanha crise, não ter com que saldar os compromissos?

E os pobres, o que acontecerá com eles?

Não se iludam!

Quando algo está difícil para os ricos (classe média para cima, na verdade), aí incluídos todos os funcionários públicos, que, a despeito de tudo, receberão seus salários no final do mês; para os pobres estará muito pior.

E nem precisa ser pobre para estar numa situação, no mínimo, bem desconfortável.

Dizem que o governo aprovou/aprovará medida autorizando a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses; mas, o que será dos trabalhadores no período???? É possível suspender, também, o ato de comer durante a crise?

Na Argentina, que não tinha/tem um terço dos casos e, sobretudo, das mortes do Brasil, já se decretou quarentena total. No vizinho país, as pessoas só podem sair de casa para comprar remédio ou comida.

Nessas terras, já se observa o aumento dos preços de coisas essenciais, como o álcool em gel e as máscaras. Dirão que tem o aspecto econômico pelo meio (maior procura, escassez do produto etc.) – mas, quando o fator humano será levado em conta? Quando o amor será considerado na equação?

A Itália, país mais assolado pelo vírus, até agora (os EUA, famosos por liderar todo quadro de medalhas das Olimpíadas, estão querendo assumir a dianteira que pouco orgulho confere), adotou uma medida controversa. Para dizer o mínimo.

O governo decretou que deixará os mais idosos dentre os idosos (os acima de 80 anos) sem atendimento. Não podendo salvar a todos, já estão escolhendo a quem salvar – caso típico de guerra ou naufrágio.

Fico pensando se essa solução, que é prevista até no direito brasileiro (estado de necessidade – você pode até cometer violência, desde que seja para salvar a sua vida ou a de terceiro), seria a mais condizente, justamente nestas horas, em que a caridade deveria prevalecer.

No entanto, não julguemos para não sermos julgados.

Se essa notícia – a da Itália sacrificar a população mais idosa – não for verdade, o leitor que me perdoe. Apenas disseminei algo que recebi.

Engraçado como o conhecimento nunca esteve tão ao nosso alcance. Atualmente podemos saber (quase) tudo a apenas alguns cliques. No entanto, nunca corremos tanto risco de descobrir que tudo que sabemos pode ser mentira.

Seja como for, ninguém há de duvidar da gravidade do momento.

E, o coração pesa por dizer isso, a situação pode piorar. No fundo, acho que ela vai piorar. E muito! Aliás, em termos de crise, nunca nada está tão ruim que não possa piorar.

Imaginem quando começar a adoecer pessoas próximas de nós? Imaginem quando começar a morrer pessoas conhecidas e, sobretudo, amadas?

Imaginem quando tivermos que pegar senha para ir aos supermercados, como já está acontecendo no sul do país.

O que vai ter de gente com saudade do chefe chato ou do colega da mesa ao lado, que vivia reclamando da vida. O que vai ter de gente com saudade da correria....

O que vai ter de gente contraindo COVID-19 sem nunca ter tido contato com o vírus....

Não se assuste, prezado leitor, porque isso é plenamente possível. Tem gente que até engravida imaginariamente – de crescer a barriga e tudo mais. Nossa mente é muito poderosa. Para o bem e para o mal.

O que vai ter de gente adoecendo, enfermidade, se abusar, até mais grave que a virose mundial, por ver tanta doença, tanta pessoa agonizando e falecendo.

Existem tantas pessoas preocupadas com familiares (o que vai ser dos mais idosos???); famílias isolando-se – parente proibindo até visita de parente, como tem que ser mesmo. O que vai ser de todos nós?

Li num artigo (na verdade, só vi o título) que o pânico é mais grave e perigoso até que o próprio vírus.

E, de acordo com um cartaz de um filme a respeito de assunto similar (epidemia provocada por vírus), nada se espalha como o medo.

O Ministro da Saúde disse que nosso sistema de saúde entrará em colapso em abril.

O que fazer, então, diante do apocalipse que bate às nossas portas?

Bem, além de FICAR EM CASA (A VACINA É FICAR EM CASA!!!!), talvez devêssemos seguir Paulo como nunca fizemos nesses dois mil anos: GUARDEMOS A FÉ!

Ou se preferirem algo mais próximo e menos religioso, sigam a instrução do cartaz de outro filme sobre o mesmo assunto: TENTEM MANTER A CALMA.

Os mais céticos irão dizer que num tal cenário de calamidade é muito complicado manter a fé, a calma e a esperança.

Pois vos digo com toda a força do meu coração: é nos momentos de tempestade que mais a nossa fé tem que aflorar; é nos tempos difíceis que mais precisamos demonstrar nossa crença em Deus; nas épocas tempestuosas que temos que fazer prevalecer nossa humanidade; nas horas mais escuras que têm que sobressaltar os talentos; nas ocasiões de provação e privação que provamos nosso verdadeiro valor e caráter.

Não é a dificuldade da batalha que há de nos deixar esmorecer. Pelo contrário, quanto mais difícil for a guerra, mais temos que nos esmerar; mais temos que dar o nosso melhor – sobretudo em prol dos necessitados. Quanto mais desesperadora for a situação mais temos que manter a paz, a serenidade e, sobretudo, a fé.

Essa tempestade vai exigir muito de governos e sociedades, em todo o planeta. Sobretudo em termos de solidariedade....

No entanto, se refletirmos bem haveremos de constatar que, no fundo, o mundo já estava doente antes mesmo do coronavírus. Talvez, no fundo, o vírus tenha vindo para nos curar.

O vírus veio para (tentar) nos salvar de nosso egoísmo, de nossa falta de amor, de nosso apego excessivo por eletrônicos, do nosso distanciamento, de nossa frieza, de tudo. A doença, que nos afligia e aflige (e continuará a nos afligir, mesmo depois da crise, se Deus não vier em nosso socorro) é muito grave.

Vivíamos/vivemos em um mundo de superficialidades, onde, não raro, a essência é desconhecida ou relegada.

Comentava com a minha valorosa equipe de trabalho dia desses que estamos mais próximos agora, em regime de teletrabalho (Home Office), que antes. O fato é que precisamos nos distanciar para perceber o tanto que ansiamos pela companhia uns dos outros.

Quantas vezes, nos últimos anos, não trocamos a companhia de pessoas queridas, abraços, carícias e mesmo a alegria de uma conversa olho no olho pelos benditos smartphones? E agora? Os smartphones vão suprir nossa necessidade de pessoas queridas ao nosso redor por dois, três meses?

É na saudade que se dá valor... Tivemos que nos distanciar para dar mais valor a estar perto.

Essa tempestade vai passar. Toda tempestade passa. Nenhuma montanha é alta o suficiente.

Urge, então, que aprendamos todos com a crise. Nenhum momento é mais propício para o crescimento que as épocas mais turbulentas.

As crises são, não raro, o maior combustível para o avanço da humanidade. Que o digam as grandes guerras que assolaram o mundo no século passado. Quanto avanço tecnológico, em todos os campos (Medicina, aviação, armamento etc.), experimentamos depois da Segunda Grande Guerra?

Que tal, agora, avançarmos em nossa humanidade? Avancemos naquilo que mais nos informa enquanto seres humanos e que, por mais contraditório que possa parecer, mais está ausente na prateleira de nossos corações: o AMOR.

A doença faz tudo parecer pequeno.

Assim, muito obrigado, Senhor Coronavírus!

Muito obrigado por fornecer ao mundo uma chance de ouro, única mesmo, de se curar da sua doença.

Oxalá, todos nós aproveitemos...

Reginaldo Trindade

Procurador da República

Responsável, no Estado de Rondônia, pela Defesa do Povo Indígena Cinta Larga, de abril de 2004 a dezembro de 2017

Pós-Graduado em Direito Constitucional

Membro da Academia Rondoniense de Letras

Cidadão Abençoado

Ps. Para terminar mesmo essas confusas linhas, transcrevo, literalmente, uma mensagem abençoada que recebi de uma pessoa muito querida – Linda e Jovem. A lição está aí. Segui-la ou não é com cada um de nós....

Quando tudo isto passar....

Desejo que tenhamos aprendido que igreja não é templo.

Que família é o que temos de mais importante.

Que não somos donos do amanhã

E que não temos o controle de nada.

Desejo que tenhamos reaprendido a brincar com os nossos filhos.

A passar mais tempo junto de quem amamos.

A olhar com carinho os mais velhos

E a escola e o hospital como os lugares mais importantes da cidade.

Desejo que tenhamos aprendido que o trabalho não é tudo.

Que viver é recomeçar todos os dias.

Que é preciso coragem para enfrentar problemas.

E que Deus está sempre conosco, não importa o que aconteça.”

 

Pr. Roberto Amorim de Menezes

Winz

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Comentários

  • 1
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    Sebastião Farias 30/03/2020

    Reginaldo, bem lembrado, pelo momento. caros irmãos, vejam bem com a visão consciente de quem se coloca no lugar das pessoas atingidas, essa Pandemia mundial de COVIG-19 que, sem olhar o status social e de poder material de quem quer que seja, atinge igualmente, todas as famílias e países do mundo independente de raça ou cor e, lhes causam grandes dores e sofrimentos. O que chama atenção em tudo isso, é que esse sofrimento e dor, não é exclusividade de um único país ou povo e sim, abrange todos os países e povos da terra. Com foco nessa realidade, não há dúvidas de que se trata, de um grande castigo bíblico do Criador que por Seus motivos, se abate sobre a humanidade nesse momento, talvez, pelo nosso descaso ao amor ao próximo e, por nossa desobediência à Palavra de Deus. É verdade que há muito, vem crescendo os perfiz de pessoas más, orgulhosas, egoístas, autossuficientes, soberbas, desumanas, etc, que cultuam o poder material e vaidades e adoram os deuses representados pelo dinheiro, pelo mercado de capitais, pelo consumismo descontrolado, pelas mentiras das redes sociais, pelo narcisismo de si mesmo, pela devassidão e pelo fim da família humana e, suas obras em sua maioria, como produtos de suas relações heréticas com a humanidade são más e pecadoras. Sobre tais ações, Paulo fala aos romanos: "porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:23). Essas pessoas, que não respeitam os semelhantes, não creem e nem adoram o Deus Vivo, Único e Verdadeiro, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis e nosso Salvador, já receberam em vida sua recompensa, pois, seus corações estão fechados para Deus. Vejamos o que diz sobre isso, a Palavra de Deus: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça humana” (Romanos 1, 18). E, está escrito: “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!” (Genesis 3,19). As dores e sofrimentos que se abatem agora sobre os povos do mundo inteiro, principalmente, nos irmãos italianos, chineses, espanhóis, iranianos, franceses, japoneses, americanos, australianos e sul-africanos, os mais atingidos no momento, além de nós, mesmo assim, nosso país pode tirar das dores e dos sofrimentos deles, os exemplos que, se vistos com seriedade e responsabilidade pelo governo do Brasil, poderão antecipar aqui, com medidas proativas e solidárias, a salvação de milhares vidas que se perderiam. Com foco em um cenário estimativo, necessário para se atender as populações atingidas, previstas num hipotético pico dessa Pandemia no Brasil, sugere-se proatividade e agilidade nas tomadas de decisões, tanto na gestão do comando nacional, que deve ser harmonizada com as gestões por Estados : i) avaliação das instalações hospitalares públicas e privadas, por Estados, existentes e necessárias; ii) Ídem para as categorias de profissionais envolvidos, existentes e necessários; iii) Ídem para leitos, equipamentos, respiradores, materiais essenciais de saúde, serviços funerários, crematórios, etc; iv) rede de veículos existentes e necessários aos Estados, para suporte de assistência e de transporte dos pacientes; v) Viabilização de recursos financeiros necessários para suporte das providências de rotina e emergenciais necessárias, para que tudo, proativamente, sejam implementados, adquiridos, distribuídos e estejam disponíveis para utilização, pelos cidadãos e cidadãs necessitados; vi) A exemplo do que vêm fazendo outros países para amparar seus cidadãos carente, trabalhadores e empresas, na vigência da quarentena que todos têm a obrigação de cumprirem e, similar à atenção financeira dada pelo governo aos bancos, que seja analisado pelo CN e com urgência, a aprovação de recursos para subsidiar a sobrevivência digna, das famílias brasileiras. Essa operação cidadã, fraterna e solidária pela vida das pessoas, antes de tudo, não se trata de pedir-se favor a quem quer que seja porque, a CF em seus Artigos 1º (Caput e §Único), 5º e 6º dentre outros, asseguram esses direitos a todos habitantes deste país. Vejam o que diz e manda o Apóstolo São Tiago, a seguir, que bem serve para todos nós meditarmos sobre seus conselhos, ainda não é tarde: "Sede submissos a Deus. (...) Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós.(...) Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará." (São Tiago 4,7a. 8a.10). Amigos, há momentos em nossas vidas, em que precisamos "cair do cavalo" ( https://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/em-carta-trump-pede-para-americanos-ficarem-em-casa-por-coronav%C3%ADrus/ar-BB11Lx8a ), assim como São Paulo... As dores e sofrimentos que padecemos têm lá com certeza, esse lado positivo da provação: de dobrar o nosso orgulho, a nossa soberba, o nosso egoísmo e de nos aproximar mais de Deus, nosso Pai. Pensem nisso, ainda não é tarde para o arrependimento e para dobrarem os joelhos, reconhecendo que só Jesus Cristo é o Senhor. Rezemos todo dia o Santo Rosário em família, intercedendo pelos que sofrem e rogando a Deus pelo fim dessa Pandemia, no Brasil e no mundo. São as nossas considerações e sugestões ao Brasil e ao nosso povo. Paz e bem. Sebastião Farias Um brasileiro Nordestinamazônida

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