Coluna – O coronavírus não tem espírito olímpico
Adiamento dos Jogos do Japão parece ser o mais acertado
© Reuters/Stoyan Nenov/Direitos Reservados
Em 1908, na Catedral de São Paulo, em Londres, o Barão Pierre de Coubertin ouviu um bispo anglicano dizer que ganhar não era tão importante quanto participar. Ele gostou tanto dessa afirmação que a adaptou e a transformou no lema dos Jogos Olímpicos da era moderna: “o importante é competir”. Mas, no momento atual, em que um novo coronavírus atinge 65 países, insistir na realização dos Jogos de Tóquio não me parece a decisão mais acertada. Essa disputa com a doença não pode ser olímpica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que é possível conter a propagação do Covid-19 (nome do novo coronavírus). Mas ressalta que o Japão está entre os países que mais preocupam. O Comitê Olímpico Internacional (COI) já se manifestou dizendo que vai aguardar até maio para ter uma posição definitiva. Mas o Comitê Organizador dos Jogos, diante da notícia de que já são 274 casos no Japão, com seis mortes, admitiu, nas entrelinhas, adiar o evento, previsto para julho deste ano.
De 24 de julho a 9 de agosto, o Japão espera receber 11 mil atletas de mais de 200 países nessa segunda edição dos Jogos que vai sediar, a primeira foi em 1964. De 25 de agosto a 6 de setembro, outros 4,5 mil, na Paralimpíada. No total, quase 5 milhões de pessoas vão ao Japão para os dois eventos. Preocupante.
Adiar ou cancelar uma edição dos Jogos Olímpicos não seria inédito. Em 1916, os Jogos de Berlim foram cancelados em razão da Primeira Grande Guerra. Os de 1940, também previstos para o Japão, foram transferidos em 1937 para Helsinque (Finlândia), por conta da Segunda Guerra Sino-Japonesa. E finalmente cancelados em definitivo com a Segunda Guerra Mundial. Mesmo motivo do cancelamento dos Jogos de Londres (Inglaterra), de 1944. Vale dizer que as Copas do Mundo de 1942 e 1946 também foram canceladas.
O investimento para os Jogos de Tóquio atingiu a cifra de US$ 12,5 bilhões e especialistas dizem que, para os patrocinadores, o cancelamento do evento não permitiria, de forma alguma, recuperar o que já foi gasto. Mas quanto vale evitar a propagação de um vírus, que mesmo com baixa letalidade, mata?
Nessa corrida contra a propagação do Covid-19, não vale a pena competir. É preciso vencer.
* Apresentador do programa No Mundo da Bola da TV Brasil. A coluna do apresentador será publicada pela Agência Brasil semanalmente às terças-feiras - Rio de Janeiro
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