Ditadura à vista: mundo civilizado reage ao ataque de Bolsonaro à Amazônia
"O que falta ainda para chamar de ditadura o regime boçalnariano implantado no Brasil pelo voto?"
Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
"Se o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional não acordarem logo para impedir este avanço insano do aprendiz de ditador, não restará mata nem índio na Amazônia, e será o réquiem da jovem democracia brasileira", alerta Ricardo Kotscho; "O que falta ainda para chamar de ditadura o regime boçalnariano implantado no Brasil pelo voto?"
“Justiça seja feita: se Bolsonaro não tentasse destruir a democracia brasileira, teria praticado estelionato eleitoral. Foi isso que passou a campanha inteira dizendo que faria” (Celso Rocha de Barros, ontem, 29, na Folha).
Primeiro, ele liberou geral as armas e munições; em seguida, escancarou as terras indígenas na floresta amazônica para a exploração de mineração e madeira.
O resto é consequência, mas o presidente Jair Messias Bolsonaro finge que não tem nada com isso.
Seis dias após a invasão da aldeia dos índios Waiãpi, o presidente da República manifestou-se pela primeira vez nesta segunda-feira para dizer que “não tem nenhum indício forte” de que o líder indígena Emyra Waiãpi tenha sido assassinado por garimpeiros armados.
Com o cinismo habitual, o capitão expulso do Exército colocou em dúvida as denúncias feitas pela Funai e pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário, ligado à CNBB) sobre a invasão de grupos armados em áreas indígenas da Amazônia, que virou uma terra de ninguém desde a sua posse.
Qual é duvida dele? Emyra Waiãpi está morto e não se suicidou. Há muitas testemunhas: os índios sobreviventes (por enquanto).
Se aqui ele pensa que ainda engana alguém, o mundo civilizado está estarrecido com os últimos acontecimentos e a omissão de Bolsonaro para impedir a escalada de violência e destruição na região.
Ao contrário, o governo tudo faz para estimular esta guerra contra a civilização.
“Ele é o chefe de Estado e, ao fazer tais pronunciamentos, deixou claro que esses grupos vão tentar controlar essas terras, invadir esses territórios”, reagiu Victoria Tauli-Corpuz, relatora da ONU para os Povos indígenas, que responsabilizou o governo brasileiro pelo assassinato do líder indígena, segundo o correspondente Jamil Chade, do UOL.
No final de semana, toda a grande mídia internacional publicou extensas reportagens sobre o ataque à floresta amazônica e aos povos indígenas.
Bolsonaro foi chamado de “vilão ambiental planetário” pelo espanhol El País, na mesma linha dos principais veículos dos EUA e da Europa:
- New York Times: “No Brasil, proteções à Amazônia são cortadas e florestas caem. Quando Bolsonaro virou presidente, reduziu os esforços para combater a extração de madeira, a pecuária e a mineração”.
- Ainda no NYT: “Mineradoras matam líder indígena durante invasão de área de proteção”.
- The Guardian: “Desmatamento na Amazônia se acelera sob Bolsonaro, e cientistas temem ponto de inflexão do qual a floresta não poderá se recuperar”.
- Washington Post: “A democracia morre na escuridão” (sobre a ameaça de prisão do jornalista Glenn Greenwald).
Mas o pior ainda está por acontecer. Ao justificar a indicação do seu filho Eduardo para a embaixada do Brasil em Washington, Jair Bolsonaro disse que o herdeiro vai ajudar a trazer investimentos norte-americanos, depois do governo legalizar a mineração e o garimpo em terras indígenas.
Se o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, hoje controlados pelo governo, não acordarem logo para impedir este avanço insano do aprendiz de ditador, não restará mata nem índio na Amazônia, e será o réquiem da jovem democracia brasileira.
O que falta ainda para chamar de ditadura o regime boçalnariano implantado no Brasil pelo voto?
E vida que segue.
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